Oh pessoal, quando virem que eu estou há muito tempo sem escrever dêm-me na cabeça, a ver se eu atino!! Pois é, apesar de ter recebido algumas bocas a este respeito, foi preciso receber um mail da minha organização de envio para meter os dedos ao teclado! “Só tens um post em Maio” foram as palavras mágicas… então para a Lucília e demais leitores, aqui começa um relato exaustivo do mês de Maio!
Ao ler o meu último post eu imagino as reacções que devo ter provocado em algumas pessoas… mas não se preocupem! Aquilo foi mais um desabafo do que outra coisa. É que por muito que fale com o pessoal aqui há cenas que só sei dizer em português e vocês desse lado fazem o papel do ouvinte confidente! As coisas na organização já acalmaram, lá me deram mais uma carrada de trabalho para fazer (assim uma coisa muito parecida com o meu Seminário =/) e pronto! Eu desde que ande entretida com cenas práticas para fazer estou bem!
Entretanto acabou o meu curso de russo na universidade e a malta na organização acha que é tempo de eu começar a falar russo… eu também acho, mas… obviamente que, se ninguém falasse inglês, já eu estava a falar russo pelos cotovelos. Mas nesta terra sobrevive-se perfeitamente sem falar estoniano quanto mais russo! Toda a gente fala inglês, melhor ou pior, mas suficiente! A questão é: não há uma necessidade extrema de desenvolver a língua estrangeira… mas como esse era um dos meus principais objectivos (aprender a falar russo), prometo que me vou aplicar ao máximo. Afinal, agora que já tenho umas bases é só desenvolver o que aprendi! E nós temos muitos sons semelhantes com russo, por isso a pronúncia não deve ser uma coisa muito difícil… a ver vamos!
De volta ao mês de Maio vamos lá ao fim de semana de 18 a 20: Baltic EVS weekend. Que é cpmo quem diz: festarola para os voluntários da Estónia, Letónia e Lituânia. A organização estava a cargo de um espanhol e um turco que trabalham aqui na Estónia, um em Tartu e o outro em Võru. Depois de muita confusão, muito estrilho, muitos mails por causa da merda da festa lá apanhámos (eu, Julka, Kêlig) boleia com um man que trabalha com a Julka e que tem uma mulher grávida que se chama Rena… a viagem até Tartu para mim foi um sacrifício, porque o meu dia começou cedinho, cedinho…
Levantei-me de manhã para ir a casa da Gabi buscar umas belas postas de bacalhau! ALEGRIA ALEGRIA!! Quando estava ao paleio com ela apercebi-me que devia ser o dia mais quente que tinha apanhado desde que estou aqui: o termómetro passava os 20 graus!! É tempo de havaianas!! (por acaso tinha-as na mochila, já vos explico para quê)
Meti as havaianas nos pés, o bacalhau na mochila e fui para o museu de arte contemporânea da Estónia -KUMU- ter com o Georgios. Vá pessoal, não pensem que eu tou a ficar maluca e que me levanto de manhã cedo a uma sexta-feira só para ir ao museu… Era o dia internacional dos museus, ou seja a visita foi: de graça!! Já me estava a estranhar, não??
Ora então aqui ficam uma peças de relevo:
Primeiro o museu em si que é o melhor de todo o conjunto!!
depois uma das peças que eu mais curti!
a sala das cabeças… é um bocado assustador, mas o efeito é brutal!! É uma sala só com bustos e cabeças. Lenine, Stalin, Pedro o Grande, Katarina… estão todos aqui, é demais!!
a exposição temporária era de novos artistas russos
fotos e peças de mercados no Cazaquistão
freaks…
Kalinka, Malinka, Kalinka, Maia…
Da arte estoniana, tenho a salientar:
um galo de Barcelos feito em rolhas de cortiça!!
“Scuba-divers”, a melhor cena que vi… parecia mesmo mesmo mesmo que estavam na água!
“armchairs” feitas com pneus de camiões. São brutais, mas não muito confortáveis. Ao contrário do museu em si: é super confortável, incrivelmente bem feito, mas o recheio não está à altura do edifício!
E com a brincadeira nas cadeiras deixei cair a minha máquina ao chão e parti os cristais do visor… e não tenho mira pequenina, ou seja: fodi a máquina toda!! A lente tá boa, mas sem ver o que ando a fotografar, é complicado! Mas não é por isso que vou deixar de carregar no botão!! De agora em diante as minhas fotos serão tiradas por instinto, sem ver o que tou a ver… espero que gostem!
E pronto visto o museu fui ter com a Aude para irmos à piscina fazer uma saunazinha e um jacuzzi… a piscina fica a uma boa meia hora do centro, mas é muito barata, limpinha e com pouca gente. Por dois euros e meio (40 EEK) fizemos dez piscinas (quase que ia morrendo) sauna seca, mais dez piscinas (a Aude, porque eu fiquei-me pelas 5) e jacuzzi… Soube-me pela vidinha!! Depois fizemos um belo pic-nic na floresta lá erto da piscina. Foi muito bom mesmo. É a tal coisa, no início é brutal estar sempre rodeado de muita gente, receber imensa informação. Mas depois quando se começa a processar essa informação vai-se preferindo dar atenção a determinadas pessoas, em particular. Começa a dar-se mais valor aos momentos que se passam a dois, a três ou até a 6 do que aos que se passam a 10 ou a 15! E foi isso que aconteceu comigo! Preferi estar só com a Aude do que depois estar com a mitra Tartu!!
bem este post era suposto ser sobre esse fim de semana em Tartu, mas já´vai longo... cenas dos próximos capítulos, já a seguir!!
quinta-feira, maio 31, 2007
sexta-feira, maio 11, 2007
para a Bri e demais interessados
Ao pedido de um amor incondicional tenta-se responder (quase) imediatamente. Então vejamos se consigo pôr-vos a par do que se tem passado em Tallinn e na minha cabeça na última semana.
Depois dos motins (26 e 27 Abril) o ambiente na cidade ficou muito estranho, pesado, muito azul escuro. Mas, tínhamos algo mais importamte com o que nos preocupar: a festa de despedida do Christian. Para mim, ir pô-lo ao aeroporto significou o início do fim do meu SVE. Já alguns voluntários partiram da Estónia rumo às suas casas. Não vou dizer que não fiquei triste, mas, o Christian foi o primeiro do núcleo duro a partir. E foi muito duro vê-lo desaparecer por entre as portas de segurança. Apesar dos balões, chapéus de festa e cartazes, foi a choradeira pegada, principalmente para mim. Foi dia 4 de Maio. Dia 4 de Julho é a vez do Kêlig, Laura e Aude. Entretanto vai a Alice, o Georgios e a Lesya… em menos de dois meses o meu núcleo duro ficará reduzido à Julka e ao Thomas. Já tinha pensado nisto várias vezes, mas quando estava no aeroporto desabou sobre a minha cabeça a realidade implacável: “vais ficar sem amigos, outra vez”!
Claro que, quando me vim embora de Portugal, também chorei por deixar os meus amigos e família. Mas sei que em Dezembro, no máximo, os vou rever. Sei que quando voltar tudo estará na mesma. A minha irmã mais nova estará uns centímetros mais alta, talvez a minha avó tenha uns cabelos brancos a mais. Certamente os meus amigos terão empregos diferentes, roupas novas, estranhos amores. Mas sei de fonte segura que tudo estará basicamente na mesma. Por isso é “fácil”, more or less.
Com os amigos que fiz aqui (sim, alguns serão amigos para a vida, sinto-o) a coisa muda de figura. Malta que mora na Rússia ou na Ucrânia, dificilmente, voltarei a ver. Não sei que caminhos tomará a minha vida e a deles, mas… O Christian mora em Itália, o Kê, Alice e Aude em França, a Laura em Berlim. Não deve ser tão difícil voltar a vê-los, mas mesmo assim… Bem, com tudo isto só quero dizer que em Julho e Agosto o meu coraçãozinho vai andar feito em pantanas… Claro que novos voluntários vão chegar, quem sabe um príncipe virá no meio deles… But I don’t care, because they are not THE volunteers. The ones that shared with me my first moments, my doubts! I’m afraid!!!
Como: “What goes around comes around” o Christian teve direito a uma super festa de despedida. Alugámos sala especial da African Kitchen, com direito a sauna e tudo! Toda a gente cozinhou qualquer coisinha, comprámos vinho, cerveja e vodka, pusémos os bikinis e lá fomos para a festa mais triste de sempre! Não tenho muitas fotos dessa noite, pois como devem imaginar a minha disposição não era a melhor.
Vse kogda-nibud budet horosho. (tudo vai ficar bem, um dia. Comentário gentilmente cedido por Julka Kazakova)
Além disso, antes da festa, exactamente antes de sair do escritório, tive uma pega descomunal com os meus patrões. Como vocês sabem na semana passada houve duas noites de motins. O que não sabem é que na manhã de 27 de Abril, um dos miúdos da nosa organização foi preso, on his way to school. Na primeira noite de motim, o chavalo não saiu de casa. Foi preso às 9h30 da manhã do dia seguinte. Está a ser acusado de organizar o motim… na sua casa, a polícia confiscou material anti-fascista e cenas relativas a um projecto (“School of Democracy”) da nossa organização. Grande confusão, grande alarido… Entretanto, o tribunal deu ordem para manter o chavalo em cativeiro até seis meses, se necessário. Escusado será dizer que, na minha opinião, o miúdo não tem capacidade para organizar uma festa, quanto mais um motim. E se bem me lembro da definição de motim, uma das características deste ajuntamento de pessoas é a imprevisibilidade e a desorganização…
Então na quinta-feira, dia da festa do Christian, a Maia e o Igor decidiram chamar-me à razão porque eu não faço nada pelo chavalo que foi preso. Os textos que escrevi sobre os motins classificaram-nos como “showing no emotion, no opinion”… E pronto, foi caldo entornado! Anda uma gaja 5 anos a estudar na faculdade, a aprender a pôr sentimento e opiniões e lado quando escreve um texto jornalístico para depois ouvir uma merda destas! Como o meu humor não era o melhor, colei o ponteiro e mostrei-lhes os dentes! Quem me conhece bem sabe do que falo.
Erro número dois: pediram-me para escrever um artigo de opinião, sobre o ponto de vista de um estrangeiro residente em Tallinn… Quem trabalhou comigo n’A CABRA sabe bem o que me custa escever este tipo de artigos. Sempre me recusei até à última e desta vez não foi excepção. Disse-lhes claramente que a minha opinião é minha e só minha. Só a partilho com amigos e desconhecidos que viajam no meu blog. Não é publicável em nenhum meio de comunicação russo ou estoniano, PORQUE EU NÃO QUERO!! Um dos motivos que nunca me deixaram escrever opinião de ânimo leve é o gosto pela minha insignificância e anonimato. São das coisas que mais prezo nesta vida. Então porquê tentar impingir ou vender os meus pensamentos que não têm valor factual nem especifíco? Não sou perita em nada, não sei muito sobre nada, não sou extremamente boa em nada… então sobre o que posso opinar?
Passei-me! Disse-lhes: “This is not my fight, it is not my war. I shall not take part nor even a side. I don’t agree with the russian position the same way I don’t agree with the estonian one. My country did not participate in the II Wold War, so why should I be taking part on it’s consequences? When writing journalistic texts I shall not show emotion or opinion, and that is the only way I know how to write. My opinion is only mine. I don’t want to see it in the newspaper”!
Eu bem escrevi relatos sobre os motins, press releases sobre a situação do chavalo, e enviei-os para todos as agências noticioas que merecem o meu respeito. Não por iniciativa prórpia, obviamente, mas porque a Maia e o Igor me pediram. Mas ficam muito espantados quando ninguém pega nas minhas peças… devem achar que os editores de grandes fábricas de conteúdos não têm mais nada que fazer senão pegar em textos escritos por uma miúda que não é jornalista credenciada, que escreve quase sem fontes, numa língua que não é a sua e sem orientação e supervisão profissional… É óbvio que todos os órgãos de comunicação social do mundo, que escrevem internacional, têm os olhos postos em Tallinn, na mesma forma que cá têm um correspondente ou algumas fontes. Então porque precisariam de mim?? Nem os órgãos portugueses, que não tinham cá ninguém, se mostraram interessados nas minhas notícias… porque haveriam os outros de o fazer? Para mim isto é claro como água e de fácil compreensão. Mas para os chefes da minha organização é sinónimo de que eu não me esforço, não me importo, não quero saber… “You are a journalist and you have no questions”, disseram-me! Pois, eu bem vejo o que se passa à minha volta, não preciso de perguntar para perceber. E quando eles falam muito em russo e eu pergunto alguma coisa respondem-me com uma ou duas frases… Que a democracia e a liberdade de expressão, na Estónia, são coisas muito frágeis, eu já sei. Mas isso não quer dizer que o possa escrever só porque sim! Digamos que não me encontro na mais confortável posição para o fazer! Não tenho provas, não tenho fontes, só sei o que vejo e o que sinto na pele… e isso é opinião, não publicável!
Eu sei que a escola de jornalismo moscovita é muito diferente da anglo saxónica, seguida em Portugal, mas eu só fui treinada por uma e a minha mente não é assim tão aberta a mudanças… Não consigo mudar a favor do que vai contra os meus princípios! Consigo adaptar-me ao frio, à falta de beijinhos na cara, à pouca hospitalidade. Mas continuo a usar havaianas em casa, a dar beijinhos na cara dos meus amigos e a receber convidados com muito amor e carinho! Não sei se me faço entender a 100 %, mas acho que já me perceberam o suficiente.
Então estes dias têm sido assim… uns bem outros menos bem. Eu não sei se eles exigem demasiado de mim ou se eu é que não me dou o suficiente. Mas sinto que às vezes me querem usar como arma política… e num país onde os estrangeiros são olhados de ladeiro, é capaz de não ser muito boa ideia! Não gosto que me digam que não me importo, mas a verdade é que bem antes de fazer 18 anos me capacitei que não posso mudar o mundo… tenho muita pena!
Entretanto lá mudaram o monumento de sítio, do centro da cidade para um cemitéro militar, não muito longe. Dia 8 de Maio comemora-se em quase odo o mundo o fim da II Guerra Mundial. Na Rússia dia 9 de Maio é feriado, Dia da Vitória. Ou seja, aqui vai-se à missa e ao monumento, no dia 9. Pois muito bem. O meu plano era ir ao novo sítio do monumento, tirar umas fotos e seguir para a aula de russo. Qual não é o meu espanto quando a Maia me pergunta se eu não vou à igreja… Oh pah, não é preciso ser muito inteligente para entender que: se eu não percebo a língua dificilmente terei algum gozo em assistir a algo que é unicamente em russo. “I am not a religious person. I don’t go to the church in Portugal, so why should I go here?” Eles queriam que eu fosse à igreja e que engrossasse o cortejo de russos pela cidade, ostentando símbolos com dizeres do género: “I remember. I am proud”. Poupem-me… Quer dizer, não é que não me importe ou que não queira ver ou saber o que se passa. Mas definitivamente não quero ser parte do que se passa. À excepção das manifestações estudantis em Coimbra e Lisboa, eu fui sempre unica e exclusivamente uma espectadora. Nunca tive razão suficientemente forte que me levasse para o meio da confusão ou para a frente de batalha, além da estupidez das propinas. Porque é que haveria agora de meter-me entre dois povos que têm sérios problemas de relacionamento há várias décadas? Mas, claro que para a minha organização eu não me importo, não quero saber, não quero ser parte. Já me disseram que para o ano que vem querem um voluntário russo. Acho bem que queiram um falante, porque facilitaria imenso o trabalho com os miúdos e pode ser de uma grande mais-valia. Mas eu sei que, lá no fundo, eles querem é alguém que tome as suas dores e assuma uma luta que não é sua… Sinto muito, mas esse papel eu não farei!
Depois dos motins (26 e 27 Abril) o ambiente na cidade ficou muito estranho, pesado, muito azul escuro. Mas, tínhamos algo mais importamte com o que nos preocupar: a festa de despedida do Christian. Para mim, ir pô-lo ao aeroporto significou o início do fim do meu SVE. Já alguns voluntários partiram da Estónia rumo às suas casas. Não vou dizer que não fiquei triste, mas, o Christian foi o primeiro do núcleo duro a partir. E foi muito duro vê-lo desaparecer por entre as portas de segurança. Apesar dos balões, chapéus de festa e cartazes, foi a choradeira pegada, principalmente para mim. Foi dia 4 de Maio. Dia 4 de Julho é a vez do Kêlig, Laura e Aude. Entretanto vai a Alice, o Georgios e a Lesya… em menos de dois meses o meu núcleo duro ficará reduzido à Julka e ao Thomas. Já tinha pensado nisto várias vezes, mas quando estava no aeroporto desabou sobre a minha cabeça a realidade implacável: “vais ficar sem amigos, outra vez”!
Claro que, quando me vim embora de Portugal, também chorei por deixar os meus amigos e família. Mas sei que em Dezembro, no máximo, os vou rever. Sei que quando voltar tudo estará na mesma. A minha irmã mais nova estará uns centímetros mais alta, talvez a minha avó tenha uns cabelos brancos a mais. Certamente os meus amigos terão empregos diferentes, roupas novas, estranhos amores. Mas sei de fonte segura que tudo estará basicamente na mesma. Por isso é “fácil”, more or less.
Com os amigos que fiz aqui (sim, alguns serão amigos para a vida, sinto-o) a coisa muda de figura. Malta que mora na Rússia ou na Ucrânia, dificilmente, voltarei a ver. Não sei que caminhos tomará a minha vida e a deles, mas… O Christian mora em Itália, o Kê, Alice e Aude em França, a Laura em Berlim. Não deve ser tão difícil voltar a vê-los, mas mesmo assim… Bem, com tudo isto só quero dizer que em Julho e Agosto o meu coraçãozinho vai andar feito em pantanas… Claro que novos voluntários vão chegar, quem sabe um príncipe virá no meio deles… But I don’t care, because they are not THE volunteers. The ones that shared with me my first moments, my doubts! I’m afraid!!!
Como: “What goes around comes around” o Christian teve direito a uma super festa de despedida. Alugámos sala especial da African Kitchen, com direito a sauna e tudo! Toda a gente cozinhou qualquer coisinha, comprámos vinho, cerveja e vodka, pusémos os bikinis e lá fomos para a festa mais triste de sempre! Não tenho muitas fotos dessa noite, pois como devem imaginar a minha disposição não era a melhor.
Vse kogda-nibud budet horosho. (tudo vai ficar bem, um dia. Comentário gentilmente cedido por Julka Kazakova)
Além disso, antes da festa, exactamente antes de sair do escritório, tive uma pega descomunal com os meus patrões. Como vocês sabem na semana passada houve duas noites de motins. O que não sabem é que na manhã de 27 de Abril, um dos miúdos da nosa organização foi preso, on his way to school. Na primeira noite de motim, o chavalo não saiu de casa. Foi preso às 9h30 da manhã do dia seguinte. Está a ser acusado de organizar o motim… na sua casa, a polícia confiscou material anti-fascista e cenas relativas a um projecto (“School of Democracy”) da nossa organização. Grande confusão, grande alarido… Entretanto, o tribunal deu ordem para manter o chavalo em cativeiro até seis meses, se necessário. Escusado será dizer que, na minha opinião, o miúdo não tem capacidade para organizar uma festa, quanto mais um motim. E se bem me lembro da definição de motim, uma das características deste ajuntamento de pessoas é a imprevisibilidade e a desorganização…
Então na quinta-feira, dia da festa do Christian, a Maia e o Igor decidiram chamar-me à razão porque eu não faço nada pelo chavalo que foi preso. Os textos que escrevi sobre os motins classificaram-nos como “showing no emotion, no opinion”… E pronto, foi caldo entornado! Anda uma gaja 5 anos a estudar na faculdade, a aprender a pôr sentimento e opiniões e lado quando escreve um texto jornalístico para depois ouvir uma merda destas! Como o meu humor não era o melhor, colei o ponteiro e mostrei-lhes os dentes! Quem me conhece bem sabe do que falo.
Erro número dois: pediram-me para escrever um artigo de opinião, sobre o ponto de vista de um estrangeiro residente em Tallinn… Quem trabalhou comigo n’A CABRA sabe bem o que me custa escever este tipo de artigos. Sempre me recusei até à última e desta vez não foi excepção. Disse-lhes claramente que a minha opinião é minha e só minha. Só a partilho com amigos e desconhecidos que viajam no meu blog. Não é publicável em nenhum meio de comunicação russo ou estoniano, PORQUE EU NÃO QUERO!! Um dos motivos que nunca me deixaram escrever opinião de ânimo leve é o gosto pela minha insignificância e anonimato. São das coisas que mais prezo nesta vida. Então porquê tentar impingir ou vender os meus pensamentos que não têm valor factual nem especifíco? Não sou perita em nada, não sei muito sobre nada, não sou extremamente boa em nada… então sobre o que posso opinar?
Passei-me! Disse-lhes: “This is not my fight, it is not my war. I shall not take part nor even a side. I don’t agree with the russian position the same way I don’t agree with the estonian one. My country did not participate in the II Wold War, so why should I be taking part on it’s consequences? When writing journalistic texts I shall not show emotion or opinion, and that is the only way I know how to write. My opinion is only mine. I don’t want to see it in the newspaper”!
Eu bem escrevi relatos sobre os motins, press releases sobre a situação do chavalo, e enviei-os para todos as agências noticioas que merecem o meu respeito. Não por iniciativa prórpia, obviamente, mas porque a Maia e o Igor me pediram. Mas ficam muito espantados quando ninguém pega nas minhas peças… devem achar que os editores de grandes fábricas de conteúdos não têm mais nada que fazer senão pegar em textos escritos por uma miúda que não é jornalista credenciada, que escreve quase sem fontes, numa língua que não é a sua e sem orientação e supervisão profissional… É óbvio que todos os órgãos de comunicação social do mundo, que escrevem internacional, têm os olhos postos em Tallinn, na mesma forma que cá têm um correspondente ou algumas fontes. Então porque precisariam de mim?? Nem os órgãos portugueses, que não tinham cá ninguém, se mostraram interessados nas minhas notícias… porque haveriam os outros de o fazer? Para mim isto é claro como água e de fácil compreensão. Mas para os chefes da minha organização é sinónimo de que eu não me esforço, não me importo, não quero saber… “You are a journalist and you have no questions”, disseram-me! Pois, eu bem vejo o que se passa à minha volta, não preciso de perguntar para perceber. E quando eles falam muito em russo e eu pergunto alguma coisa respondem-me com uma ou duas frases… Que a democracia e a liberdade de expressão, na Estónia, são coisas muito frágeis, eu já sei. Mas isso não quer dizer que o possa escrever só porque sim! Digamos que não me encontro na mais confortável posição para o fazer! Não tenho provas, não tenho fontes, só sei o que vejo e o que sinto na pele… e isso é opinião, não publicável!
Eu sei que a escola de jornalismo moscovita é muito diferente da anglo saxónica, seguida em Portugal, mas eu só fui treinada por uma e a minha mente não é assim tão aberta a mudanças… Não consigo mudar a favor do que vai contra os meus princípios! Consigo adaptar-me ao frio, à falta de beijinhos na cara, à pouca hospitalidade. Mas continuo a usar havaianas em casa, a dar beijinhos na cara dos meus amigos e a receber convidados com muito amor e carinho! Não sei se me faço entender a 100 %, mas acho que já me perceberam o suficiente.
Então estes dias têm sido assim… uns bem outros menos bem. Eu não sei se eles exigem demasiado de mim ou se eu é que não me dou o suficiente. Mas sinto que às vezes me querem usar como arma política… e num país onde os estrangeiros são olhados de ladeiro, é capaz de não ser muito boa ideia! Não gosto que me digam que não me importo, mas a verdade é que bem antes de fazer 18 anos me capacitei que não posso mudar o mundo… tenho muita pena!
Entretanto lá mudaram o monumento de sítio, do centro da cidade para um cemitéro militar, não muito longe. Dia 8 de Maio comemora-se em quase odo o mundo o fim da II Guerra Mundial. Na Rússia dia 9 de Maio é feriado, Dia da Vitória. Ou seja, aqui vai-se à missa e ao monumento, no dia 9. Pois muito bem. O meu plano era ir ao novo sítio do monumento, tirar umas fotos e seguir para a aula de russo. Qual não é o meu espanto quando a Maia me pergunta se eu não vou à igreja… Oh pah, não é preciso ser muito inteligente para entender que: se eu não percebo a língua dificilmente terei algum gozo em assistir a algo que é unicamente em russo. “I am not a religious person. I don’t go to the church in Portugal, so why should I go here?” Eles queriam que eu fosse à igreja e que engrossasse o cortejo de russos pela cidade, ostentando símbolos com dizeres do género: “I remember. I am proud”. Poupem-me… Quer dizer, não é que não me importe ou que não queira ver ou saber o que se passa. Mas definitivamente não quero ser parte do que se passa. À excepção das manifestações estudantis em Coimbra e Lisboa, eu fui sempre unica e exclusivamente uma espectadora. Nunca tive razão suficientemente forte que me levasse para o meio da confusão ou para a frente de batalha, além da estupidez das propinas. Porque é que haveria agora de meter-me entre dois povos que têm sérios problemas de relacionamento há várias décadas? Mas, claro que para a minha organização eu não me importo, não quero saber, não quero ser parte. Já me disseram que para o ano que vem querem um voluntário russo. Acho bem que queiram um falante, porque facilitaria imenso o trabalho com os miúdos e pode ser de uma grande mais-valia. Mas eu sei que, lá no fundo, eles querem é alguém que tome as suas dores e assuma uma luta que não é sua… Sinto muito, mas esse papel eu não farei!
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