Faz alguma coisa, não é? É! Um atelier de escrita criativa. Porque não? Inscrevi-me e no início do mês lá fui. Adorei, claro! Nunca tinha escrito estórias em vez de histórias. Criar diálogos, imaginar... Escrever só por escrever, como se fosse possível. Adorei!!
Confesso que foi um fim de semana duro, a acordar cedo (domingo incluído). Mas foi também uma risota, especialmente nos momentos em que os participantes partilhavam as estórias. Enfim, tudo isto para dizer o quê? Que vou partilhar com vocês alguns dos textos desse fim de semana. Alguns meus e outros cedidos por um gentil colega, de seu nome Lisandro Mendes Castro.
O mote para o texto que se segue foi dado pela bem disposta orientadora do atelier: "Era uma vez um botão assassino"... O Lisandro escreveu o resto:
Era uma vez um botão assassino e orgulhoso que ganhava a vida a matar fechos, laços, correntes e colchetes. Resumindo e concluindo, tudo aquilo que representava a concorrência na arte de apertar, ajustar e moldar a peça de roupa ao corpo humano. O botão era implacável. Não admitia rivais. Só ele teria o talento e a dignidade de ser cosido. Mais ninguém!Todas as noites dirigia as orações ao deus Tecido, que era o seu verdadeiro destino:
— Pai-Tecido, que estais na roupa, santificada seja a vossa qualidade, venha a mim a vossa agulha, sejam feitas as medidas, assim no alfaiate como no pronto-a-vestir. Ámen.
O Pai-Tecido crescia farto do comportamento assassino do botão. Todas as semanas chegavam ao Shopping-Céu dezenas de vítimas, impiedosamente afastadas do seu dever pela crueldade desmedida do botão. Por isso, decidiu dar-lhe uma lição. Milagrosamente, mandou descer às lojas uma praga terrível, a que deu o nome de Saldos.
Os preços baixaram abruptamente e o botão assistiu, incrédulo, à vergonhosa mudança de etiqueta. Foi com grande pesar que se despediu do seu pomposo preço e se viu forçado a aceitar uma quantia desumana, ou pior, desbotada.
À hora de abertura das lojas, dezenas de clientes invadiram o espaço. O botão nunca vira tanta mão vulgar. Tocavam, puxavam e, por fim, abandonavam-no. Ninguém o queria! Todos buscavam os fechos, os laços, as correntes e até os colchetes… O Pai-Tecido estava contente.
Mesmo desfeita a concorrência, o botão permanecera indesejado e para sempre ficou esquecido no canto de uma prateleira, para se lembrar de que a morte de uns nunca traz a felicidade dos outros.
Lisandro Mendes Castro
Não está brutal?!? Eu adoro! O Lisandro deu-me mesmo autorização para publicar, ok?? aqui e no labor.(Vicicssitudes da escrita oralizada, que não se compadece com a hora de jantar... Alegrias da internet que agradece que os posts enormíssimos sejam repartidos. Eu já volto para vos mostrar a minha versão do botão assassino!!)
1 comentário:
Volto já, volto já....... quando, caralho?!
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