quinta-feira, dezembro 29, 2011
montada num aedardun mágico, qual tapete, eu chego à Islândia
quarta-feira, dezembro 28, 2011
pequenos nadas
terça-feira, dezembro 20, 2011
is anybody out there?!
quinta-feira, julho 14, 2011
diálogos quotidianos
C - c'est très beau ton vernis. j'adore la couleur...
Lee - oh oui merci. c'est Chanel, c'est por ça que tu aime la couleur!
C - ah bon! mais tu est une fémme de menage très particulière
L - biensur. particulière, comme le vernis!
Lee - ainda te cheira a podre no frigorífico?
C - não. o que é que fizeste?
Lee - fechei a caixa do queijo e selei-a com fita-cola!
terça-feira, julho 05, 2011
yeeeaaaaahhh
finalmente consegui fazer com que a minha pequena varanda/terraço tenha um ar yogável!!! já posso estender o colchãozinho e ginasticar viradinha para a montanha!! urray urray urray
(está para breve um post sobre as coisas que os ricos deitam fora/deixam para trás)
segunda-feira, julho 04, 2011
choque cultural - Córsega take II (3 em 1)
Sempre que mudo de país (até parece que é muito frequente...) as idas ao supermercado são verdadeiras aventuras. Mesmo quando estou apenas de passagem, gosto de ir às compras como as gentes locais. A primeira impressão foi que as coisas aqui não são tão mais caras do que em Portugal... os lácteos, tirando o leite, são mais baratos e a carne e o peixe são ela por ela. Ok, hoje paguei dois euros por três pêssegos. Nada de grave.
O que realmente me surpreendeu aqui num hipermercado foi encontrar bacalhau, seco e salgado, da Noruega!
nunca tinha visto à venda assim, fora de Portugal. e muito menos assim:
em bolinhos! apesar de serem redondos e terem ar de bolinhos de batata, são vendidos como bolinhos de bacalhau e não são caros (tipo 1,40€ se não em falha a memória. e o bacalhau inteiro 13€ e qualquer coisa o quilo)!
De facto, não sei se haverá outros sítios onde se venda bacalhau assim, mas acredito que, pelas mesmas razões, pelo menos no Luxemburgo e na Suíça deva vender-se. Um dia hei-de confirmar.
Obviamente que isto não se trata de um especial agrado aos portugueses. O supermercado está repleto de carne de borrego, arroz basmati, leite de cabra e tantos outros produtos importados que, graças às suas originais embalagens com inscrições em alfabetos não latinos mantém os franceses ao largo. Contudo, se isto não é uma forma de agradar aos trabalhadores emigrantes (ou receber bem, ou estar atentos às necessidades), eu cá não sei o que é... (a verdade é que com tanto eslavo a viver em Portugal, como é que eu nunca vi à venda num hipermercado smetana ou borsch ou pelmeni??)
E por falar em comida, na minha primeira pequena incursão turística, de que aqui já vos mostrei fotos, reparei na ausência de um Mc Donalds! Isto sim está em todo o sítio onde se vá. É impossível fazer turismo sem ter um Mac Do no meio do centro mais centro desse sítio turístico. Recordo Tallinn e o seu Mac numa das portas da cidade velha (Viru), passagem obrigatória... e Moscovo, onde felizmente, em cada esquina havia um destes, com as melhores, mais limpas e grátis (and overall no questions asked) casas de banho da cidade! Mas aqui ainda não vi! Noutro dia, em conversa com um português (note-se que a indicação da nacionalidade do sujeito só serve para lhe retirar alguma credibilidade), comentei que achava caricato não haver um Mc Donalds visível. Ele respondeu-me que, "en fait, não há Mc Donalds na Córsega. Já tentaram abrir, mas os corsos correm com eles à bomba". Disse o português que houve pelo menos duas tentativas de abrir uma casa do tio americano aqui na ilha, as duas frustradas com ataques bombistas... não, não morreu ninguém, mas se abrisse, aí é que havia de haver mortos e feridos! eu cá como não conheço nenhum corso, não leio corso e na rádio não se fala nisso, não tenho como confirmar (mas já pesquisei, sem sucesso). mas gostei imenso da ideia, confesso... tem que querer dizer muito desta ilha se de facto não existir aqui um Mc Donalds...
terça-feira, junho 28, 2011
os bichos II e Babel II (apesar de oficialmente não ter existido I de nenhum)
hoje vi um escorpião! bem sei que para muitos não será grande coisa, de facto, ele nem era assim grande. mas aqui para a city girl a viver na ilha foi do caralho!!! a minha companheira de casa já me tinha dito que tinha visto "um bicho preto com uns cornos, que parecia mesmo um escorpião". claro que desvalorizei e achei que ela estava a falar de uma bicha cadela de proporções anormais. na minha cabeça, escorpiões são coisas que só se vêm em dois sítios: ou no deserto ou naqueles programas com o David Attenborough que passam na televisão ao fim de semana antes do almoço!
a partir de hoje, para mim, há três sítios a saber, Córsega incluída!
escusado será dizer qual foi o destino do animal, sob pena de ferir as suscetibilidades dos amigos bios e demais eco freaks! o meu movimento foi tão rápido que só pensei depois. é que além de estar numa casa gigante que me deu um trabalhão a limpar, o bicho estava no mesmo espaço onde agora habitam 3 crianças, uma das quais ainda nem palra!!
a propósito dessa casa: eu vivo em França e como tal tento falar francês (e acabo mesmo por conseguir). trabalho com uma italiana que não fala francês e como tal, é em italiano/ilanianês que nos entendemos. e nessa casa, mora, por ora, uma família francesa que reside habitualmente na Suíça. a cunhada da dona da casa é half american half english, graças ao universo!! e então posso falar com ela em inglês, o que é uma benesse quando as coisas têm que ficar bem entendidas! e eis que para ela trabalha uma baby sitter sul-americana que fala castelhano. finalmente, ela (a baby sitter) diz-me: "podes falar português. eu moro em Genebra, e lá o meu namorado é português. ele só fala português, eu só falo castelhano, mas lá entendemo-nos". e eu penso: "porra! eu não falo francês e tento, não falo italiano e tento, agradeço poder falar inglês e espanhol e tu ainda queres que eu fale português?!" claro que só me ocorreu praguejar em russo, estoniano e alemão!
terça-feira, junho 21, 2011
choque cultural - Córsega take I
felizmente, pensei eu, aqui na minha rua há um ecoponto, com dois contentores por cada uma das três cores. e então peguei em dois caixotes e fiz uma mini reciclagem na varanda. fixe!
hoje fui despejar os caixotes e quase que tinha um ataque cardíaco! que atraso de vida, senhora França!! no papel só se podem meter jornais, revistas e folhetos de publicidade... bem que fiquei com uma quantidade jeitosa de finitos rolos de papel sem saber o que lhe fazer! e o cartão it self? não pode ir para reciclar porquê?? e o que é que eu faço com as embalagens das bolachas?!
antes de desesperar, olhei para o eco ponto amarelo. dois choques num só! no amarelo entram as embalagens. as metálicas, as plásticas e as de papel... (nasceu-me uma gota na testa como se eu fosse uma animação) mas não entram sacos de plástico!!! tipo, o plástico mais poluente de todos e que está em exagero neste planeta não pode ir para reciclar!!! passei-me!
e afinal, onde raios vou meter os rolos de papel higiénico que já não têm papel?
segunda-feira, junho 20, 2011
1º dia de trabalho
oh pah... lagartos há muitos e eu tenho visto vários. alguns são tão coloridos que até já giros. mas isso é quando são lagartos tipo sardoniscas, sardõezitos que fogem ao mínimo barulho. mas crocodilos disfarçados de osgas, ta que pariu!! que susto apanhei!
noutra portada, mais uma caralhada soltada aos quatro ventos:
eu de noite bem as ouço coaxar. há sítios em que são quase ensurdecedoras. mas nunca pensei que fossem assim tão mínimas e imóveis e destemidas! que nervos! espero que amanhã quando voltar à casa já possa limpar a portada sem me assustar!
entretanto matei tantas, mas tantas aranhas... matei, não, aspirei! é inacreditável o trabalho delas e eu peço desculpa à natureza por estar a desfazê-lo. mas porra! se não desfaço o trabalho delas, desfazem elas o meu!!
lições do dia:
- cuidadinho a abrir portadas!
- antes de ires aos cantos, manda o aspirador desfazer as teias de aranha!
- afasta-te das formigas de cabeça vermelha
- se a tua colega só fala italiano, aproveita! aprende e desenvolve :)
domingo, junho 19, 2011
bienvenue en Corse II
estando numa ilha é fácil estar perto da praia, claro. eu cá vivo a três km desta praia
St Cyprien é linda, sim. mas já vi, em postais, outras aqui bem perto e tão ou mais bonitas. ainda não tive foi tempo (e um mapa) para ir à descoberta.
a costa aqui deste lado do sul da Córsega parece-me ter sido recortada com uma daquela tesourinhas pequenas e arredondadas. são baías atrás de baías, com enseadas e lagoas marítimas escondidas. não há areal a perder de vista, não. há antes um mar com umas cores onde é fácil a vista se perder. seja como for, acho a praia estranha. a água é quente e não tem ondas! que não seja mal interpretada, não me estou a queixar. estou apenas a partilhar as minhas constatações. eu gosto de ondas, de ter que lutar com elas, de ter que manter sempre o olho aberto e nunca virar as costas ao mar. gosto de entrar na água e sentir os ossos a estalarem de frio, a temperatura do corpo a baixar, os poros a contraírem-se num arrepio. aqui não há disso. o que há são polvos, medusas e cardumes de mini peixes a nadarem ao meu lado, por entre as estrelas do mar, os ouriços e de mais coisas que não sei identificar. há uma transparência incrível da água que, mesmo que ela me dê pelo pescoço, me permite ver a cor com que pintei as unhas dos pés sem os levantar da areia. às vezes até penso que preferia que a água fosse um nadinha mais turva, só para não ver as coisas que me roçam as pernas!!
e a propósito da falta de ondas, diga-se que falta também (e consequentemente), aquele barulhinho de fundo tão próprio das praias de oceano. o marulhar é uma coisa que aqui não existe senão quando algum barco ou jet ski passa mais perto da areia. e isso sim é muito estranho: chegar à praia e ouvir o silêncio, apenas interrompido pelas crianças que deliram na água. a temperatura e a calma das águas daqui proporcionam um playground brutal para os mais novos, ao mesmo tempo que dão o merecido descanso aos progenitores! (mas isso daria todo um outro post)
a posição do sol é outra coisa que ainda me causa alguma estranheza também. aqui deste lado, o sol põe-se na montanha. ou seja, para estar na praia deitada a jeito de apanhar sol uniformemente, é preciso estar de cabeça virada para baixo, para o mar. e isso é um nadinha ackward!
outra coisa que me irrita solenemente são os bichos!! sim, esta é a ilha da beleza (não fui eu que dei o nome, é mesmo assim), mas também é a ilha dos bichos! e na praia... haja paciência! anteontem fui picada por inúmeras formigas pretas de cabeça vermelha! oh yeah!! estava eu a dormitar o justo sono da guerreira... quando fui acordada por umas picadelas e comichões que me atiraram logo para a água! quando regressei à toalha reparei que tinha matado várias formigas durante o sono, mas nem assim, as vivas desistiram. não acabou aqui! uma carocha voadora veio contra a minha cabeça duas ou três vezes (devem ser os bichos mais burros que moram aqui na ilha!). quando pensei que já a tinha enxotado, passei as mãos no cabelo para o prender e lá estava ela, morta, enleada nos meus longos cabelos queimados!! é dispensável quanto embaraçoso descrever a minha reação...
mais uma banhoca e mais uma mini sesta, lá me preparo eu para voltar a prender o cabelo. e lá está outra carocha presa no dito cujo! se não tivesse enterrado a outra que estava morta teria julgado que ela tinha voltado à vida só para me moer a paciência! que nojo, porra!
como se não bastasse, há também uns micro pontos pretos voadores que me adoram! eu devo ter uma pele ou um sangue ou ambos muito bons para a saúde destes insetos. não sei o que são, nunca tinha visto. são mínimos, mas dão cada ferradela digna de uma carraça bem gorda!
mas pronto, já percebi o truque: manter a toalha o mais perto da água possível e estar nela o menor tempo possível!
sábado, junho 18, 2011
bienvenue en Corse
a viagem foi terrível, mas tranquila. correu tudo como o planeado, mas é uma grande seca fazer quase 1500 km sozinha! vi paisagens brutais, como na fronteira entre Espanha e França (Irún) e estações de serviço horrorosas (como quase todas as espanholas onde parei). quase não falei durante um dia inteiro, mas parei a cada duas/três horas e dormi algures em Espanha, muito perto da fronteira. pedi à minha mãe que estivesse sempre comigo. ela que, tenho a certeza, não aprovaria jamais esta forma de migrar, acho que me ajudou a não adormecer. claro que foi ajudada pela memória daquela música do Graciano Saga que conta a história do emigrante que morre na estrada! sempre alerta, Lee!!
um dos melhores momentos foi o pequeno almoço aqui
numa estação de serviço toda catita, com vista para os Alpes! o resto da viagem foi uma pressa de chegar a Marselha, sempre a dar de frente com placas "Barcelone"! ui que vontade tive de virar para trás e ir à cidade maravilha!!
mas tal como o carro, que ia em cruise control, eu ia em piloto automático e nem me enganei nenhuma vez. cheguei a Marselha, direitinha ao terminal correto do porto. sem espinhas, mesmo! fiquei orgulhosa de mim. cheguei tal como o previsto, À hora prevista, sem nenhum acidente ou incidente, como tem que ser!
comprar bilhete, esperar na fila de carros para embarcar, trocar de roupa, esperar... mesmo sem cabine, quando entrei no barco desmaiei numa sala com cadeiras tipo esta. não sem antes me despedir
adeus Europa continental. agora vou ser ilhéu!
quando acordei, já se via terra e a primeira ideia que me ocorreu foi: "dasse!! que classe!" montanhas verdes, pequenas casas terracota em frente ao mar, com barcos ancorados à porta...
gostei!
gostei também da maneira como fui recebida pela irmã de uma amiga: de peito aberto com um sorriso! A Anabela, que me recebeu, acolheu, guiou; que me ensina, alerta e explica; conquistou logo uma lugar no canto mais profundo do meu coração. a bondade desinteressada, interessada apenas em servir de incentivo e rede, sempre me comoveu.
as primeiras impressões da ilha foram muitas e díspares. é bonita, é verde, o contacto com a natureza é tanto que até chateia (principalmente no que toca à quantidade de bichos voadores e rastejantes que convivem alegremente com as pessoas, nas quais deixam as suas marcas bem visivéis) e todas as casas são de cores pastel, terra, perfeitamente enquadradas na paisagem, como se se tratassem apenas de mais uma pedra de granito que espreita pelo verde da montanha. sim, a montanha, está sempre presente. a montanha que noutros sítios, como na Suíça, me deixou quase sem ar, enclausurada sem horizonte, aqui faz-me companhia, serve-me de orientação e proporciona-me umas vistas fantásticas do pôr do sol. não me enclausura, porque o mar, esse tal horizonte, está sempre aqui ao lado, sempre mais perto que a montanha.
a meio do primeiro dia, quando andava a ser guiada pelas redondezas tive aquilo a que os locais chamam "ressaca" da viagem. enjoei, vomitei, fiquei com dores de cabeça... bah!! nada de grave, mas ainda assim, embaraçoso!
depois de dois ou três dias nos arrabaldes de Porto Vecchio, a terceira cidade da Córsega (as duas primeiras são as capitais do Norte e Sul, pois claro), lá fui espreitar o centro histórico. encontrei logo uma rua com o nome do filho mais famoso da ilha
e deparei-me com o que parece ser uma vila italiana, tranquila (se conseguirmos ignorar os turistas). daqui, a Córsega parece-me rústica, tão bem tratada como abandonada, deixada ao natural...
como qualquer sítio turístico, Porto Vecchio está repleto de cafés de chame, esplanadas acolhedores e convidativas!
as antigas muralhas também cá estão!
granito, ocre e verde são as cores que dominam toda a paisagem. tanto, que alguns pedaços de montanha parecem tirados de um catálogo do Gerês!
simples e eficaz. eu gosto!
de qualquer parte mais alta se vê facilmente o mar.
que é como quem diz: vai uma pessoa tranquilamente a conduzir e de repente o mar aparece à vista... tenho pena que a máquina (leia-se: telemóvel) não consiga captar a beleza da imagem.
e eis que a meio do post... duty calls!!
mas não quero guardar sem publicar, sob pena de atrasar ainda mais quem me quer ler! eu já volto! tenho que ir ali ao centro e dps... um mergulhinho na praia!!
segunda-feira, maio 30, 2011
packing
"Run fast for your mother and fast for your father
Run for your children for your sisters and brothers
Leave all your love and your loving behind you
Can’t carry it with you if you want to survive"
quinta-feira, maio 26, 2011
ida e volta, ida sem volta (edited)
entre paragens, interrupções e crises de inspiração, acho que este blog pode voltar à vida que tinha em 2007. desde a última vez que aqui escrevi muita coisa aconteceu. caiu o governo, estive um mês na Estónia, decidi emigrar. as amigas engravidaram ou pariram, uma avó foi para o lar e ontem até pintei as unhas de vermelho pela primeira vez na minha vida!! entre trivialidades, decidi que este não é o país que quero para mim. acredito piamente que mereço melhor e que o posso encontrar noutro sítio. não sei onde, mas não vou ficar aqui à espera que os impostos subam e o meu salário se mantenha na mesma para ver se descubro. imbuída do espírito tuga emigrante do final do século passado, parto para França, para começar. largo a estabilidade da minha casa, do meu contrato por tempo indeterminado, da minha família, dos meus amigos. vou à procura de tudo, onde não espero encontrar nada. mas vou. não consigo ficar acomodada a esta bela vidinha. Portugal é um ótimo destino de férias e eu não quero que passe disso. não acredito na mudança do país, não acredito que consigamos pagar o que vamos ficar a dever além do que já devemos, não acredito na mudança dos problemas de fundo, não vejo mudança de mentalidades. só vejo campanha política com todo o arraial que já é normal. ser jornalista pesou muito e até facilitou a minha decisão. estou farta de ver o podre de perto, aliás, de dentro! estou farta que tentem fazer-me de burra, que tentem manipular-me, que queiram sempre usar-me para passar uma determinada mensagem de uma determinada forma. basta! não aceito mais que me mintam enquanto me olham nos olhos e me sorriem. não aceito mais ter que escrever sobre os podres, a podridão e os bolorentos!
sexta-feira, março 04, 2011
o botão assassino volta a matar
ora aí está, voltei!! não tão rápido quanto tinha estimado, mas depois de uma lembrança do tio mexicano, cá estou. e não venho sozinha. trago o botão assassino, uma das personagens a quem demos vida no atelier de escrita criativa. este é o meu botão assassino:
Era uma vez um botão assassino… que vivia, sem levantar suspeitas, bem colado à sua casa. Tinha-se mudado há duas semanas para aquela loja de roupa em segunda mão. Ali, no meio das camisas bafientas, nenhum botão, fecho ou colchete sabia das suas façanhas. O enorme botão redondo com o centro de metal vivia no topo de um sobretudo de fazenda, bem perto do cruzamento entre a cabeça e o corpo, em frente ao pescoço. À noite, o emblema bordado na camisola dentro do sobretudo tentava meter conversa.
- Então, redondo, que tal vai isso?
- Tudo ótimo.
- Que vês aí de cima?
- Nada de mais – atirou o botão. Um chapéu com penas barulhentas, dois cachecóis de ressaca.
- E no sítio de onde vieste, como é a vida? Eu cá tenho muitas saudades do mar. andava sempre ao peito de um capitão.
- Hum… Muito interessante – esquivou-se o botão. De onde eu venho, ninguém gosta de mim. Matei a minha dona, sem querer.
Um burburinho instalou-se rapidamente na loja.
- O quê? - espantou-se o vestido de noiva.
- Como? Como?
- Isso é mentira.
- Completamente impossível – sentcenciou o coletivo de calças.
Sapatos, calções e saias, todos comentavam, todos queriam saber. Um botão assassino? Era a coisa mais ridícula que já tinham ouvido.
- Aqui, as únicas peças com capacidade para matar somos nós – disse altivamente uma écharpe de seda. Cachecóis, lenços, gravatas e xailes todos concordaram
- É… até parece – disse o velho emblema náutico. O meu capitão beijava-me sempre antes de se fazer ao mar. Precisava da minha força para matar enormes polvos - explicou.
Até as riscas se riram.
- Ora douradinho, tu matas tanto como aquelas pantufas peludas que estão ali na prateleira – atirou a écharpe com escárnio.
- Mas conta lá, botão, o que faz de ti um assassino tão temível? – perguntou um cinto.
Tímido, o grande redondo escondeu-se na sua casa. Não queria mais conversa. Estava tão contente por estar naquela loja, depois de tantos anos naquela fantasmagórica mansão de mámore. Adorava a companhia dos brincos e colares. Entretinha-se a ouvir as estórias das bóinas e das shapkas. Os dias passavam com a pressa comum dos clientes. As noites, com as conversas descontraídas das t-shirts e das gabardines.
De manhã, ouviu-se entrar pela loja
- Bom dia.
- Bom dia. Esteja à vontade.
- Obrigada. Quero experimentar este sobretudo – disse a jovem loira. Tem um ar tão imperial. Adoro.
Imediatamente, o botão soube o que estava prestes a acontecer. Seria comprado, usado algumas vezes, empacotado durante os meses de verão.
- Nem pensar. Noutro armário, vou acabar por sufocar graças às meias de lã – pensou.
Ainda o botão pensava, já a moça despachada tirava o sobretudo da cruzeta. Enfiou o braço esquerdo, sentiu o peso da fazenda, depois o braço direito, aconchegou finalmente os ombros. Nisto, já o botão tinha desapertado a linha que o unia à fazenda.
- Não desgosto – constatou a rapariga.
- Mas desgosto eu – intuiu o botão.
Ela preparava-se para abotoar o casaco, começando pelo pescoço, apertar o botão para dentro da sua pequena casa. O botão deu um atlético salto, entrou para a boca aberta em exclamação e tapou a garganta da jovem.Mantendo-se firme, agarrado à epiglote, o botão estava disposto a morrer para matar.
- Acudam – gritou uma funcionária da loja que já agarrava a rapariga pelo peito. Com mestria fê-la cuspir o botão e tossir imenso.
Cuspido, molhado, no chão, o botão assassino ria-se para a echárpe de seda:
- Vês, minha querida? Isto é só uma amostra. Agora imagina o que eu posso fazer a uma mulher sozinha…
E sorridente, o botão recostou-se a apreciar o futuro que o aguardava. Daqui em diante, seria um botão respeitado. Já não passaria despercebido aos outros habitantes da loja. Mas certamente, ninguém o levaria em terceira mão.
some feedback?? please...
quinta-feira, fevereiro 17, 2011
a escrita afinal não precisa de ser verosímil
Faz alguma coisa, não é? É! Um atelier de escrita criativa. Porque não? Inscrevi-me e no início do mês lá fui. Adorei, claro! Nunca tinha escrito estórias em vez de histórias. Criar diálogos, imaginar... Escrever só por escrever, como se fosse possível. Adorei!!
Confesso que foi um fim de semana duro, a acordar cedo (domingo incluído). Mas foi também uma risota, especialmente nos momentos em que os participantes partilhavam as estórias. Enfim, tudo isto para dizer o quê? Que vou partilhar com vocês alguns dos textos desse fim de semana. Alguns meus e outros cedidos por um gentil colega, de seu nome Lisandro Mendes Castro.
O mote para o texto que se segue foi dado pela bem disposta orientadora do atelier: "Era uma vez um botão assassino"... O Lisandro escreveu o resto:
Era uma vez um botão assassino e orgulhoso que ganhava a vida a matar fechos, laços, correntes e colchetes. Resumindo e concluindo, tudo aquilo que representava a concorrência na arte de apertar, ajustar e moldar a peça de roupa ao corpo humano. O botão era implacável. Não admitia rivais. Só ele teria o talento e a dignidade de ser cosido. Mais ninguém!Todas as noites dirigia as orações ao deus Tecido, que era o seu verdadeiro destino:
— Pai-Tecido, que estais na roupa, santificada seja a vossa qualidade, venha a mim a vossa agulha, sejam feitas as medidas, assim no alfaiate como no pronto-a-vestir. Ámen.
O Pai-Tecido crescia farto do comportamento assassino do botão. Todas as semanas chegavam ao Shopping-Céu dezenas de vítimas, impiedosamente afastadas do seu dever pela crueldade desmedida do botão. Por isso, decidiu dar-lhe uma lição. Milagrosamente, mandou descer às lojas uma praga terrível, a que deu o nome de Saldos.
Os preços baixaram abruptamente e o botão assistiu, incrédulo, à vergonhosa mudança de etiqueta. Foi com grande pesar que se despediu do seu pomposo preço e se viu forçado a aceitar uma quantia desumana, ou pior, desbotada.
À hora de abertura das lojas, dezenas de clientes invadiram o espaço. O botão nunca vira tanta mão vulgar. Tocavam, puxavam e, por fim, abandonavam-no. Ninguém o queria! Todos buscavam os fechos, os laços, as correntes e até os colchetes… O Pai-Tecido estava contente.
Mesmo desfeita a concorrência, o botão permanecera indesejado e para sempre ficou esquecido no canto de uma prateleira, para se lembrar de que a morte de uns nunca traz a felicidade dos outros.
Lisandro Mendes Castro
Não está brutal?!? Eu adoro! O Lisandro deu-me mesmo autorização para publicar, ok?? aqui e no labor.(Vicicssitudes da escrita oralizada, que não se compadece com a hora de jantar... Alegrias da internet que agradece que os posts enormíssimos sejam repartidos. Eu já volto para vos mostrar a minha versão do botão assassino!!)
sexta-feira, fevereiro 04, 2011
para que conste
faz "notícias" que carimba de "última hora" com "possibilidades" avançadas por televisões nacionais...
e na reportagem da inauguração da escola, à qual o comum dos leitores não assistiu, o que é que mostra?? 4 fotos do presidente da câmara... WTF?!?!?!?!?