terça-feira, janeiro 24, 2012

ai portugal, portugal

do pouco tempo livre que havia para escrever aqui pouco resta. Está a ser ocupado com um curso de cozinha em horário pós laboral. sim, eu gostava de ser filha de pai rico para poder largar tudo e dedicar-me a estudar produção e gestão de cozinha, a fundo e em horário laboral. gostava. mas como não sou e o euromilhões teima em não me sair, lá terei que me contentar com o pós laboral.
não desfazendo. o pós laboral traz algumas vantagens, como o chef deixar as tiradas à Ramsay para entre sorrisos e piscares de olho! outra vantagem é que como ninguém me conhece posso ser quem quero ser ou quem sou efetivamente. sem preconceitos, nem contextos, as ideias que vou fazendo das pessoas, e as que vão fazendo de mim, são construídas aula a aula, sorriso a sorriso, partilha a partilha. gosto muito disso.
a maior vantagem é talvez a turma, respetiva heterogeneidade e características. merecia um outro post sobre os diferentes backgrounds, expectativas em relação ao curso e postura na cozinha (as lâminas de 30 centímetros fazem qualquer coisa pelas pessoas, mas eu ainda não consigo nomear o que é!). gostava de usar algumas pessoas como personagens de contos, porque como sei tão pouco sobre elas, posso florear à vontade! e conhecer pessoas é sempre deixar cair preconceitos e ser surpreendida. e eu já tinha saudades disso.
ontem, no final do curso, quando chegava ao carro vi que um dos meus colegas estava na paragem de autocarro. como sou uma miúda muito simpática dei-lhe boleia! eu já tinha percebido que o senhor não é português, apesar de o parecer e de falar super bem! também já tinha percebido que é religioso ou assim foi educado porque não come porco. a partir daqui podia fazer, e fiz alguns, filmes sobre o passado e o presente do senhor, até o seu futuro! tento combater o preconceito e sigo.
então, na curta viagem que fizemos juntos ele lá me destruiu mais um ou outro e lá me surpreendeu!! depois de já ter viajado "por quase todo o planeta", como ele próprio disse, estabeleceu-se em Portugal. e a julgar pelo bem que fala deve ter sido há uns bons anos. e então, eis que o senhor me surpreende de novo. "Portugal é o melhor país do mundo", disse. disse-o e senti-o, porque mesmo quando o contra-ataquei com as dificuldades, a crise, o buraco, o desemprego e a falta de luz ao fundo do túnel, ele sorriu. e disse: "aqui é o único sítio onde posso entrar no autocarro e dizer: "então, o benfica jogou ontem" e ter sempre alguém que me responda simpaticamente".
é verdade. se no Porto as pessoas são simpáticas mesmo que o assunto seja o benfica, só posso concluir que o tuga gosta de falar nos transportes públicos, mais ainda se for com estrangeiros. mas ontem concluí também que se ainda há, eu sei que os há mas não os costumo encontrar, estrangeiros apaixonados por Portugal e que escolheram viver aqui e que mesmo estando o país na merda eles não abandonam o barco, então é porque ainda há uma réstia de algo especial nesta república das bananas. eu vou continuar à procura desse je ne sais quoi. para já, fecho o perímetro de busca à cozinha. estou a por à prova a minha hipótese: a maneira mais fácil de Portugal seduzir um estrangeiro é pelo bucho. até tese em contrário. afinal, do que é português, a cozinha deve ser mesmo o melhor!

2 comentários:

Merenwen disse...

A comida, o tempo, as paisagens, as pessoas...temos tanta coisa boa, se fosse bem aproveitada. Infelizmente temos também uma tendência para a sacanice, o amiguismo e o chico espertismo.

Cláudia Oliveira disse...

Temos-te a ti no rol das coisas boas! E a mim, claro... e a mais uma variedade de "coisas" que podia aqui escrever.
E, como deves ter percebido, continuo a fazer-me de convidada para um jantarinho feito por ti. ;)