segunda-feira, janeiro 09, 2012

da minha justiça

poucas coisas há que me enervem mais do que as injustiças. não, eu reformulo. há poucas coisas que me tirem do sério da maneira que as injustiças tiram. não. quando me sinto injustiçada espumo-me rápida e fortemente. assim, sim. há muitos tipos de injustiça e obviamente que têm diferentes impactos em mim.
crianças que morrem de fome ao mesmo tempo que crianças morrem entupidas de comida, não é justo, mas chateia-me pouco.
os madeirense terem que pagar os medicamentos na totalidade não me parece justo, mas chateia-me ainda menos.
agora, generalizações e desvalorizações de anos de trabalho com frasezinhas no facebook... isso irrita-me profundamente. tira-me do sério e leva-me a responder (bem ou mal, é outra questão), o que às vezes causa discussões (des)necessárias.
ainda estou para decidir o que me irrita mais: se o que as pessoas dizem (sem pensar nem pesar, sem querer nem saber), se a reação que eu deixo que provoquem em mim. esta última talvez. mas a questão aqui é que: irrita-me a facilidade com que se desvaloriza o trabalho de alguém, sem olhar a nenhum contexto nem consequência. irrita-me. demais.
as redes sociais são maravilhosas, sim. permitem comunicar com um ídolo de infância com a mesma facilidade que permitem criticar de forma destrutiva. ainda antes de qualquer tipo de comentário online, já eu cá andava para levar com as críticas e as bocas em cima. na boa. ao menos eram ao vivo e a cores, ainda que nem sempre fossem cara a cara. e isto era ótimo porque me permitia rebater e tentar convencer o meu interlocutor de que o meu ponto de vista tinha um fundamento e era mais verdade que o dele. ou, tantas vezes, me permitia fazer perguntas e ser alertada para algo que nunca me tinha ocorrido, ver doutra forma o que sempre me tinha parecido igual e até, às vezes, dar o braço a torcer. na maior parte das vezes permitia (e isto continua a acontecer) que se gerasse uma discussão profícua, com várias opiniões válidas e, no fim, um acordo, mesmo que esse fosse tácito e cada um ficasse com a sua razão.
acho que, no fundo, o que me irrita é que a internet não permita o fervor e os resultados de uma discussão ao vivo. irrita-me perceber que o que eu leio tem a entoação que eu lhe dou e que o que os outros leem também tem a entoação que lhe dão. e isso é só meio caminho andado para o mal entendido. o resto do caminho é feito com outros contextos nervosos, faltas de conhecimento, berros e outras histerias. pronto, irrita-me a facilidade com que se diz mal e a facilidade com que me deixo desestabilizar. irritam-me as generalizações, sobretudo as que levam a preconceitos (don't they all?), irritam-me as opiniões infundadas, as desvalorizações, as faltas de cuidado, de decoro... ai irrita-me tanta coisa!
que se desengane quem achar que estou para aqui a falar armada em santa. nada disso. já dei e vou continuar a dar porrada em muita coisa na internet. acho sempre que tenho razão e, geralmente, estou muito segura do que digo. também vou continuar a dar o braço a torcer, a ouvir/ler, a espantar-me. claro que vou. e até posso imaginar que algumas das postas que mando possam causar noutras pessoas as mesmas, ou até mais sentidas, reações que sucedem comigo. ok. eu acho que posso viver com isto.
eis que dou por mim chegada ao ponto de partida. fico mais irritada pelo que dizem ou porque me deixo irritar? porque me deixo irritar, claro. mas no fim de contas, isto é tudo sobre mim. sou eu a medida para o tamanho da irritação, seja qual for a fonte. quanto mais me diz respeito mais me enerva, obviamente. mas se quanto mais me enerva, mas eu escrevo sobre isso, então venham elas, que as aulas de yoga estão caras! venham as injustiças e as generalizações. que sejam um motor gerador de ação, que me levem a fazer, a atuar, a mudar. justiça me seja feita, posso ser muita coisa mas injusta tento não ser e injustiçada também não hei de.


NB: se alguém ainda estiver a pensar nas pobres criancinhas, que se escuse de criticar sem saber do que fala, sem saber eu faço para combater a minha irritação, ok?)

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