quinta-feira, maio 31, 2007

Maio, verde Maio

Oh pessoal, quando virem que eu estou há muito tempo sem escrever dêm-me na cabeça, a ver se eu atino!! Pois é, apesar de ter recebido algumas bocas a este respeito, foi preciso receber um mail da minha organização de envio para meter os dedos ao teclado! “Só tens um post em Maio” foram as palavras mágicas… então para a Lucília e demais leitores, aqui começa um relato exaustivo do mês de Maio!
Ao ler o meu último post eu imagino as reacções que devo ter provocado em algumas pessoas… mas não se preocupem! Aquilo foi mais um desabafo do que outra coisa. É que por muito que fale com o pessoal aqui há cenas que só sei dizer em português e vocês desse lado fazem o papel do ouvinte confidente! As coisas na organização já acalmaram, lá me deram mais uma carrada de trabalho para fazer (assim uma coisa muito parecida com o meu Seminário =/) e pronto! Eu desde que ande entretida com cenas práticas para fazer estou bem!
Entretanto acabou o meu curso de russo na universidade e a malta na organização acha que é tempo de eu começar a falar russo… eu também acho, mas… obviamente que, se ninguém falasse inglês, já eu estava a falar russo pelos cotovelos. Mas nesta terra sobrevive-se perfeitamente sem falar estoniano quanto mais russo! Toda a gente fala inglês, melhor ou pior, mas suficiente! A questão é: não há uma necessidade extrema de desenvolver a língua estrangeira… mas como esse era um dos meus principais objectivos (aprender a falar russo), prometo que me vou aplicar ao máximo. Afinal, agora que já tenho umas bases é só desenvolver o que aprendi! E nós temos muitos sons semelhantes com russo, por isso a pronúncia não deve ser uma coisa muito difícil… a ver vamos!
De volta ao mês de Maio vamos lá ao fim de semana de 18 a 20: Baltic EVS weekend. Que é cpmo quem diz: festarola para os voluntários da Estónia, Letónia e Lituânia. A organização estava a cargo de um espanhol e um turco que trabalham aqui na Estónia, um em Tartu e o outro em Võru. Depois de muita confusão, muito estrilho, muitos mails por causa da merda da festa lá apanhámos (eu, Julka, Kêlig) boleia com um man que trabalha com a Julka e que tem uma mulher grávida que se chama Rena… a viagem até Tartu para mim foi um sacrifício, porque o meu dia começou cedinho, cedinho…
Levantei-me de manhã para ir a casa da Gabi buscar umas belas postas de bacalhau! ALEGRIA ALEGRIA!! Quando estava ao paleio com ela apercebi-me que devia ser o dia mais quente que tinha apanhado desde que estou aqui: o termómetro passava os 20 graus!! É tempo de havaianas!! (por acaso tinha-as na mochila, já vos explico para quê)
Meti as havaianas nos pés, o bacalhau na mochila e fui para o museu de arte contemporânea da Estónia -KUMU- ter com o Georgios. Vá pessoal, não pensem que eu tou a ficar maluca e que me levanto de manhã cedo a uma sexta-feira só para ir ao museu… Era o dia internacional dos museus, ou seja a visita foi: de graça!! Já me estava a estranhar, não??
Ora então aqui ficam uma peças de relevo:
Primeiro o museu em si que é o melhor de todo o conjunto!!




depois uma das peças que eu mais curti!

a sala das cabeças… é um bocado assustador, mas o efeito é brutal!! É uma sala só com bustos e cabeças. Lenine, Stalin, Pedro o Grande, Katarina… estão todos aqui, é demais!!



a exposição temporária era de novos artistas russos

fotos e peças de mercados no Cazaquistão

freaks…

Kalinka, Malinka, Kalinka, Maia…
Da arte estoniana, tenho a salientar:

um galo de Barcelos feito em rolhas de cortiça!!


“Scuba-divers”, a melhor cena que vi… parecia mesmo mesmo mesmo que estavam na água!


“armchairs” feitas com pneus de camiões. São brutais, mas não muito confortáveis. Ao contrário do museu em si: é super confortável, incrivelmente bem feito, mas o recheio não está à altura do edifício!
E com a brincadeira nas cadeiras deixei cair a minha máquina ao chão e parti os cristais do visor… e não tenho mira pequenina, ou seja: fodi a máquina toda!! A lente tá boa, mas sem ver o que ando a fotografar, é complicado! Mas não é por isso que vou deixar de carregar no botão!! De agora em diante as minhas fotos serão tiradas por instinto, sem ver o que tou a ver… espero que gostem!

E pronto visto o museu fui ter com a Aude para irmos à piscina fazer uma saunazinha e um jacuzzi… a piscina fica a uma boa meia hora do centro, mas é muito barata, limpinha e com pouca gente. Por dois euros e meio (40 EEK) fizemos dez piscinas (quase que ia morrendo) sauna seca, mais dez piscinas (a Aude, porque eu fiquei-me pelas 5) e jacuzzi… Soube-me pela vidinha!! Depois fizemos um belo pic-nic na floresta lá erto da piscina. Foi muito bom mesmo. É a tal coisa, no início é brutal estar sempre rodeado de muita gente, receber imensa informação. Mas depois quando se começa a processar essa informação vai-se preferindo dar atenção a determinadas pessoas, em particular. Começa a dar-se mais valor aos momentos que se passam a dois, a três ou até a 6 do que aos que se passam a 10 ou a 15! E foi isso que aconteceu comigo! Preferi estar só com a Aude do que depois estar com a mitra Tartu!!
bem este post era suposto ser sobre esse fim de semana em Tartu, mas já´vai longo... cenas dos próximos capítulos, já a seguir!!

sexta-feira, maio 11, 2007

para a Bri e demais interessados

Ao pedido de um amor incondicional tenta-se responder (quase) imediatamente. Então vejamos se consigo pôr-vos a par do que se tem passado em Tallinn e na minha cabeça na última semana.
Depois dos motins (26 e 27 Abril) o ambiente na cidade ficou muito estranho, pesado, muito azul escuro. Mas, tínhamos algo mais importamte com o que nos preocupar: a festa de despedida do Christian. Para mim, ir pô-lo ao aeroporto significou o início do fim do meu SVE. Já alguns voluntários partiram da Estónia rumo às suas casas. Não vou dizer que não fiquei triste, mas, o Christian foi o primeiro do núcleo duro a partir. E foi muito duro vê-lo desaparecer por entre as portas de segurança. Apesar dos balões, chapéus de festa e cartazes, foi a choradeira pegada, principalmente para mim. Foi dia 4 de Maio. Dia 4 de Julho é a vez do Kêlig, Laura e Aude. Entretanto vai a Alice, o Georgios e a Lesya… em menos de dois meses o meu núcleo duro ficará reduzido à Julka e ao Thomas. Já tinha pensado nisto várias vezes, mas quando estava no aeroporto desabou sobre a minha cabeça a realidade implacável: “vais ficar sem amigos, outra vez”!
Claro que, quando me vim embora de Portugal, também chorei por deixar os meus amigos e família. Mas sei que em Dezembro, no máximo, os vou rever. Sei que quando voltar tudo estará na mesma. A minha irmã mais nova estará uns centímetros mais alta, talvez a minha avó tenha uns cabelos brancos a mais. Certamente os meus amigos terão empregos diferentes, roupas novas, estranhos amores. Mas sei de fonte segura que tudo estará basicamente na mesma. Por isso é “fácil”, more or less.
Com os amigos que fiz aqui (sim, alguns serão amigos para a vida, sinto-o) a coisa muda de figura. Malta que mora na Rússia ou na Ucrânia, dificilmente, voltarei a ver. Não sei que caminhos tomará a minha vida e a deles, mas… O Christian mora em Itália, o Kê, Alice e Aude em França, a Laura em Berlim. Não deve ser tão difícil voltar a vê-los, mas mesmo assim… Bem, com tudo isto só quero dizer que em Julho e Agosto o meu coraçãozinho vai andar feito em pantanas… Claro que novos voluntários vão chegar, quem sabe um príncipe virá no meio deles… But I don’t care, because they are not THE volunteers. The ones that shared with me my first moments, my doubts! I’m afraid!!!
Como: “What goes around comes around” o Christian teve direito a uma super festa de despedida. Alugámos sala especial da African Kitchen, com direito a sauna e tudo! Toda a gente cozinhou qualquer coisinha, comprámos vinho, cerveja e vodka, pusémos os bikinis e lá fomos para a festa mais triste de sempre! Não tenho muitas fotos dessa noite, pois como devem imaginar a minha disposição não era a melhor.
Vse kogda-nibud budet horosho. (tudo vai ficar bem, um dia. Comentário gentilmente cedido por Julka Kazakova)
Além disso, antes da festa, exactamente antes de sair do escritório, tive uma pega descomunal com os meus patrões. Como vocês sabem na semana passada houve duas noites de motins. O que não sabem é que na manhã de 27 de Abril, um dos miúdos da nosa organização foi preso, on his way to school. Na primeira noite de motim, o chavalo não saiu de casa. Foi preso às 9h30 da manhã do dia seguinte. Está a ser acusado de organizar o motim… na sua casa, a polícia confiscou material anti-fascista e cenas relativas a um projecto (“School of Democracy”) da nossa organização. Grande confusão, grande alarido… Entretanto, o tribunal deu ordem para manter o chavalo em cativeiro até seis meses, se necessário. Escusado será dizer que, na minha opinião, o miúdo não tem capacidade para organizar uma festa, quanto mais um motim. E se bem me lembro da definição de motim, uma das características deste ajuntamento de pessoas é a imprevisibilidade e a desorganização…
Então na quinta-feira, dia da festa do Christian, a Maia e o Igor decidiram chamar-me à razão porque eu não faço nada pelo chavalo que foi preso. Os textos que escrevi sobre os motins classificaram-nos como “showing no emotion, no opinion”… E pronto, foi caldo entornado! Anda uma gaja 5 anos a estudar na faculdade, a aprender a pôr sentimento e opiniões e lado quando escreve um texto jornalístico para depois ouvir uma merda destas! Como o meu humor não era o melhor, colei o ponteiro e mostrei-lhes os dentes! Quem me conhece bem sabe do que falo.
Erro número dois: pediram-me para escrever um artigo de opinião, sobre o ponto de vista de um estrangeiro residente em Tallinn… Quem trabalhou comigo n’A CABRA sabe bem o que me custa escever este tipo de artigos. Sempre me recusei até à última e desta vez não foi excepção. Disse-lhes claramente que a minha opinião é minha e só minha. Só a partilho com amigos e desconhecidos que viajam no meu blog. Não é publicável em nenhum meio de comunicação russo ou estoniano, PORQUE EU NÃO QUERO!! Um dos motivos que nunca me deixaram escrever opinião de ânimo leve é o gosto pela minha insignificância e anonimato. São das coisas que mais prezo nesta vida. Então porquê tentar impingir ou vender os meus pensamentos que não têm valor factual nem especifíco? Não sou perita em nada, não sei muito sobre nada, não sou extremamente boa em nada… então sobre o que posso opinar?
Passei-me! Disse-lhes: “This is not my fight, it is not my war. I shall not take part nor even a side. I don’t agree with the russian position the same way I don’t agree with the estonian one. My country did not participate in the II Wold War, so why should I be taking part on it’s consequences? When writing journalistic texts I shall not show emotion or opinion, and that is the only way I know how to write. My opinion is only mine. I don’t want to see it in the newspaper”!
Eu bem escrevi relatos sobre os motins, press releases sobre a situação do chavalo, e enviei-os para todos as agências noticioas que merecem o meu respeito. Não por iniciativa prórpia, obviamente, mas porque a Maia e o Igor me pediram. Mas ficam muito espantados quando ninguém pega nas minhas peças… devem achar que os editores de grandes fábricas de conteúdos não têm mais nada que fazer senão pegar em textos escritos por uma miúda que não é jornalista credenciada, que escreve quase sem fontes, numa língua que não é a sua e sem orientação e supervisão profissional… É óbvio que todos os órgãos de comunicação social do mundo, que escrevem internacional, têm os olhos postos em Tallinn, na mesma forma que cá têm um correspondente ou algumas fontes. Então porque precisariam de mim?? Nem os órgãos portugueses, que não tinham cá ninguém, se mostraram interessados nas minhas notícias… porque haveriam os outros de o fazer? Para mim isto é claro como água e de fácil compreensão. Mas para os chefes da minha organização é sinónimo de que eu não me esforço, não me importo, não quero saber… “You are a journalist and you have no questions”, disseram-me! Pois, eu bem vejo o que se passa à minha volta, não preciso de perguntar para perceber. E quando eles falam muito em russo e eu pergunto alguma coisa respondem-me com uma ou duas frases… Que a democracia e a liberdade de expressão, na Estónia, são coisas muito frágeis, eu já sei. Mas isso não quer dizer que o possa escrever só porque sim! Digamos que não me encontro na mais confortável posição para o fazer! Não tenho provas, não tenho fontes, só sei o que vejo e o que sinto na pele… e isso é opinião, não publicável!
Eu sei que a escola de jornalismo moscovita é muito diferente da anglo saxónica, seguida em Portugal, mas eu só fui treinada por uma e a minha mente não é assim tão aberta a mudanças… Não consigo mudar a favor do que vai contra os meus princípios! Consigo adaptar-me ao frio, à falta de beijinhos na cara, à pouca hospitalidade. Mas continuo a usar havaianas em casa, a dar beijinhos na cara dos meus amigos e a receber convidados com muito amor e carinho! Não sei se me faço entender a 100 %, mas acho que já me perceberam o suficiente.
Então estes dias têm sido assim… uns bem outros menos bem. Eu não sei se eles exigem demasiado de mim ou se eu é que não me dou o suficiente. Mas sinto que às vezes me querem usar como arma política… e num país onde os estrangeiros são olhados de ladeiro, é capaz de não ser muito boa ideia! Não gosto que me digam que não me importo, mas a verdade é que bem antes de fazer 18 anos me capacitei que não posso mudar o mundo… tenho muita pena!

Entretanto lá mudaram o monumento de sítio, do centro da cidade para um cemitéro militar, não muito longe. Dia 8 de Maio comemora-se em quase odo o mundo o fim da II Guerra Mundial. Na Rússia dia 9 de Maio é feriado, Dia da Vitória. Ou seja, aqui vai-se à missa e ao monumento, no dia 9. Pois muito bem. O meu plano era ir ao novo sítio do monumento, tirar umas fotos e seguir para a aula de russo. Qual não é o meu espanto quando a Maia me pergunta se eu não vou à igreja… Oh pah, não é preciso ser muito inteligente para entender que: se eu não percebo a língua dificilmente terei algum gozo em assistir a algo que é unicamente em russo. “I am not a religious person. I don’t go to the church in Portugal, so why should I go here?” Eles queriam que eu fosse à igreja e que engrossasse o cortejo de russos pela cidade, ostentando símbolos com dizeres do género: “I remember. I am proud”. Poupem-me… Quer dizer, não é que não me importe ou que não queira ver ou saber o que se passa. Mas definitivamente não quero ser parte do que se passa. À excepção das manifestações estudantis em Coimbra e Lisboa, eu fui sempre unica e exclusivamente uma espectadora. Nunca tive razão suficientemente forte que me levasse para o meio da confusão ou para a frente de batalha, além da estupidez das propinas. Porque é que haveria agora de meter-me entre dois povos que têm sérios problemas de relacionamento há várias décadas? Mas, claro que para a minha organização eu não me importo, não quero saber, não quero ser parte. Já me disseram que para o ano que vem querem um voluntário russo. Acho bem que queiram um falante, porque facilitaria imenso o trabalho com os miúdos e pode ser de uma grande mais-valia. Mas eu sei que, lá no fundo, eles querem é alguém que tome as suas dores e assuma uma luta que não é sua… Sinto muito, mas esse papel eu não farei!

segunda-feira, abril 30, 2007

Moscovo VI (o ultimo post do ultimo dia)

Mais uma estação de metro, na praça das três estações de comboios, no centro da cidade.

bem, foi uma alegria, quando conseguimos meter a Julka no comboio:

ainda ficámos uns cinco minutos a recuperar o fôlego…

À saída da estação, já sem pressa reparámos nesta pintura:

é uma gravura alusiva à “MIR” (“pequena Rússia”)onde só consegui ler: “família” e “trabalho árduo”…
saídos da estação começou uma saga que nos acompahou até aravessarmos a fronteira de volta à Estónia. Ainda quando estávamos em Tallinn alguém nos disse que se ficámos mais de três dias na Rússia tinhamos que nos registar na polícia ou nos correios. Na verdade os russos que querem ficar em Moscovo mais de 90 dias também têm que se registar. Ora chegámos a Moscovo numa quinta de manhã, partimos para São Petersburgo no sábado à noite, tínhamos portanto até segunda-feira para fazer o maldito registo. Então no sábado lá fomos aos correios onde nos deram milhares de folhas para preencher… benvindos ao mundo da burocracia. Mas o registo tinha que ser feito por alguém com um passaporte russo e uma morada registada em Moscovo. Ora nem a Lena nem a Alina tinham os passaportes consigo e só a segunda é que tem morada registada. Além disso ela sozinha não podia registar 9 pessoas… Grande discussão, grande atrofio, o que vai ser da nossa vida? Ai que vamos ficar presos na Rússia… Ninguém foi capaz de nos dizer o que nos aconteceria na fronteira se não fizéssemos o dito registo… Enfim, era o nosso último dia em Moscovo e queríamos aproveitá-lo. Decidimos adiar o registo para segunda-feira, em São Petersburgo…
A Lena e a Alice apanharam o comboio de volta a Tallinn, eu a Lena (russa) e os rapazes fomos beber uma cerveja e o resto do pessoal foi dar um passeio e visitar uma catederal (onde depois o Yeltsin esteve em câmara ardente). Nós não somos assim o exemplar perfeito de turistas, mas lá seguimos depois por mais um passeio em Moscovo.

uma estátua de Pedro, o Grande

e mais uma de Lenine…

uma catedral que eu apelidei de “Jamaica’s church”!
e a bela embaixada da França…Tanto a embaixada em si, como a residência oficial do emabixador são incríveis edifícios… Comprados por De Gaule, claro!

O Kê em frente à embaixada


a modesta residência…



mais três belos exemplares da arquitectura religiosa
No objectivo do nosso passeio era chegar a uma festa, no outro lado da cidade. Era uma festa de artistas, numa antiga tipografia, onde a Alina tem o seu estúdio. Como sempre estávamos super atrasados e foi sempre a correr… quando demos por nós estávamos de novo perto da Praça Vermelha, mas agora da parte de trás, do outro lado do rio. Eu e os rapazes ficámos super excitados ao ter uma nova perspectiva da Praça, que é talvez mais espectacular do que vista da entrada principal…

o Kê e a Praça…. Mais um postal de Moscovo!

a tal igreja (do Cristo Salvador, se não me falha a memória) onde esteve o corpo de Yeltsin

a Catedral da minha infância, vista da ponte…

a vista da ponte, à esquerda

e à direita…

eu e a Alina
Lá continuamos a correr para a festa e com a pressa, eu não reparei numa barra de ferro a 10 centímetros do chão e dei um grandessíssimo trambolhão à porta da festa! Foi a risota pegada, claro está, mas ainda hoje tenho as pisaduras nas pernas…
A festa era a inauguração da mostra de uns trabalhos de vários estudantes e artistas renegados pela sociedade. Tinha cenas bem bonitas, mas outras… mas é como tudo! Estívemos menos de duas horas na antiga tipografia, porque tínhamos que voltar para o centro, comprar pequeno almoço e apanhar o comboio para São Petersburgo, onde iríamos chegar por volta das 7 da manhã.

a vista do estúdio da Alina
A festa:

ao que a Lena me confidenciou o coraçãozinha da Alina bateu mais forte pelo Kê. Mas é compreensível:

a última fotografia, na minha máquina, de Moscovo

domingo, abril 29, 2007

Motins em Tallinn

Há muito tempo que ando para escrever sobre as relações entre russos e estonianos. Agora já não dá para fugir.
Na quinta-feira estalou a bomba entre as duas comunidades e a cidade tem assistido a motins desde então.
No centro da cidade havia uma estátua de um soldado do exército vermelho. Estava lá desde 1947, como uma homenagem aos homens que morreram do lado soviético a combater o exército nazi, "a salvar a europa do fascismo". Diz-se que no perímetro do monumento estão enterrados os corpos de 14 soldados do exército soviético.
Desde então veteranos de guerra juntam-se no monumento em datas comemorativas, para prestar as suas homenagens. No ano passado, 9 de Maio, quando aqui se comemora o fim da IIGM e a libertação, a polícia teve que impedir nacionalistas estonianos de se manifestarem perto do monumento, porque já lá estavam veteranos de guerra e muitos russos.
Desde esse dia que o monumento tem estado sobre vigilância policial e de uma organização russa, 24 horas por dia.
O mês passado o governo estoniano aprovou uma lei "War Graves protection" para deslocar de locais impróprios cemiterios de guerra. Ou seja, para tirar o monumento do centro da cidade. O presidente vetou a lei, à primeira, mas acavou por se deixar levar pelo novo governo (uma coligação entre o partido reformista, social democrata e nacionalista...nada faxos, portanto).
Na madrugada de quarta para quinta feira foi montada uma enorme tenda branca sobre o monumento, colocada vedação em volta e uns placares que dizem "escavações arqueológicas". A estátua do soldado foi removida para uma localização desconhecida, mas o governo garante que se mantém intacta.
Durante a tarde centenas de russos e estonos juntaram-se nas imediações do monumento.  Uns para manifestar o seu descontentamento e outros para verem o que se passava. eu também lá fui ver. As pessoas estavam calmas, apenas gritando, muito de quando em vez, "Pazor" ("vergonha"). Só ha a referir que os mais exaltados eram da categoria: bebâdos russos e jovens, muito novos. Uma barreira policial foi montada entre a vedação e os manifestantes. Muitos cravos vermelhos e cartazes com dizeres do género: "Eu sou contra o vandalismo", "Fascismo nunca mais", "Welcome to Estonia"...
Antes da hora de jantar pressenti uma agitação na multidao e fugi a sete pés!! Também porque estava atrasada para um belo jantar, mas fugi como o diabo foge da cruz!
Depois de uma lasanha de espinafres com blue cheese fomos ao concerto dos espanhóis Ojos de Brujo. Foi lindo, brutal, mucho calor!!
Quando saimos do concerto, fomos em direcção ao centro da cidade para beber um fino e acalmar o ritmo cardíaco antes de irmos dormir... mas deparámo-nos com o caos instalado. Centenas de pessoas nas ruas, montras partidas, carros virados, lojas assaltadas... tivemos que dar a volta a meia cidade velha para conseguirmos entrar, porque a polícia não deixava niguém passar... pelo caminho muita gente ensanguentada, outros algemados, presos a postes de electricidade, o fim!
Esplanadas destruídas, paragens de autocarro vandalizadas, mas a casa de Portugal (o mercado que não tem bacalhau) estava intacta. Muitos bares estavam fechados, mas os bancos tinham as janelas "abertas"...
Sexta feira de manhã fui tirar umas fotos para o jornal, a uma escola. Tudo normal. Quando me sentei en frente ao mac a ler as notícias... tive muito medo! Um morto (russo esfaqueado por russo), 60 feridos (10 dos quais polícias), quase 300 detidos. Diz-se que o governo fechou as fronteiras com a Rússia, bem como as fronteiras de Tallinn com o resto do país, mas eu não encontro confirmação oficial sobre isto. A venda de alcool em supermercados e lojas esta proibida até 3 de Maio, jovens russos foram deportados para a Rússia e os protestos continuaram pela noite fora...
Balas de borracha, canhões de água, gás pimenta e muitos cacetetes. Mas há que dizer que a polícia estoniana é extremamente pacífica, eu diria até de mais! E há que referir que a maioria dos amotinados são muito jovens ou muito velhos. Todos com os copos!
Os protestos alastraram-se ao resto do país. A Rússia anunciou o corte das relações diplomáticas e um boicote aos produtos estonianos. Uma barreira foi construída em frente ao parlamento estoniano, está literalmente barricado. Entretanto o presidente da República endereçou uma mensagens a todos os habitantes da Estónia... Além de extremamente diplomática é um bocado provocadora...
Ontem (sábado) à noite as coisas etiveram mais calmas. a maioria dos bares estava fechada ou às moscas... Havia imensos polícias na rua, muitos mesmo. Hoje é o mesmo homens de azul por todo o lado! As montras continuam partidas e há um ambiente muito pesado nas ruas... mas não se preocupem comigo que não sou maluca o suficiente para me meter no meio da confusão.
deixo-vos aqui duas fotos da AFP, da primeira noite de confrontos...



amigos jornalistas, se precisarem de uma correspondente, já sabem!!

quinta-feira, abril 26, 2007

Moscovo V (o ultimo dia)

Acordámos mais ou menos cedo e não-sei-quantos duches depois lá nos fizemos à estada, ou ao metro, melhor dizendo. Voltámos à Praça Vermelha, queríamos ver o Lenine, ao vivo e a cores. Se bem que é mais morto e a vermelho. O mausoléu só está aberto de manhã e a estrada para a Praça Vermelha fica fechada! Há mais polícias que turistas por metro quadrado… surreal! Fila, face control, malas postas num depósito, zero de máquinas fotográficas, detector de metais e mais um controlo policial… dois a dois, finalmente lá entramos no mausoléu. Dois polícias à estrada, mais sérios e quietos que os do palácio de Buckingam! Descemos vários lances de escadas. Em todos os patamares um polícia! A luz do mausoléu é vermelha e escura. É assustador… descer escadas na penumbra e deparar-se com um gajo fardado com cara de mau… Chegádos ao fim das escadas, lá estava ele “Dieduska Lenine”. Deitado numa bela cama vermelha, dentro de uma redoma de vidro, enfeitada com símbolos comunas na base. Entra-se pela direita do avô, controrna-se pelos pés e sai-se. Tão rápido como escrever esta frase! Há quatro polícias (um em cada canto da sala quadrada) que não deixam os visitantes pararem a romaria ou chegarem-se perto do centro, onde está o corpo. Mas os meus olhos treinados tiveram tempo suficiente para ver e pensar. Se é verdadeiramente o corpo de Lenine não está tão bem conservado como seria de esperar (o Kremlin garante que a manutenção do corpo é uma das maiores despesas do Estado). Não percebo nada de corpos embalsamados ou conservados através de qualquer outra táctica. Mas o cabelo, a barba e as unhas não me pareceram muito reais.
Se é um boneco está incrivelmente bem feito, à imagem e semelhança de todas as figuras de Lenine que vi pela cidade. É a mesma cara sisuda, de expressões vincadas, com ar pensativo que se vê nos murais e nas estátuas. Nunca na minha vida eu pensei visitar este mausoléu! Nunca pensei em qual seria o verdadeiro aspecto de Lenine, mas o que vi deitado na cama vermelha deu-me uma ideia bem nítida de como for a o homem em vida! Parecia real, a tirar um bela soneca após almoço!
As nossas opiniões dividem-se quando caminhamos para a saída e discutimos, já cá fora. “É mesmo ele?” “Uma múmia?” “Um boneco?” “Viste as unhas?” “Reparaste nos sapatos?” “As mãos pareciam de cera!” “Que grande testa tinha o homem…” o pedaço idealista de mim quer acreditar que vi mesmo o verdadeiro Lenine. Mas todo o aparato em volta, a falta de luz, o exagero de polícias, a rapidez da visita, o facto de a saída não permitir uma nova entrada… tudo isso me faz pensar que o Kremlin não quer que eu saiba que “aquilo” é um boneco… Whatever!!
À saída do mausoléu visitamos as campas dos russos famosos, na parede do Kremlin. Reconheço alguns poetas, figuras da história política, desportistas. Todos o nome, as datas, uma cabeça em alto relevo de mármore e cravos vermelhos… de plástico!!! Sim porque se todo o guito vai para o avô, os netos recebem cravos de plástico!!! Até me estiquei! Mais valia não ter flores nenhumas a ter cravos de plástico, desbotados pela neve! Só Juri Gagarin e Joseph Stalin tinham cravos e rosas de verdade e de várias cores! Foi a primeira e última imagem de Stalin que vi na Rússia.
Quando saímos da Praça deparámo-nos com uma manifestação comunista, eu diria mesmo ortodoxa!


os manifestantes eram menos de 3 dezenas, mas os polícias… impossível contá-los! Eu não estava a perceber o porque de tanto aparato. Camiões, exército, cães, coletes anti-bala, gajos grandes… Mas Alina logo me explicou que o aparato não era pa esta manifestação. “They are not here for the communists, but for the nationalists!”. Estava marcada para essa tarde uma marcha de nacionalistas por uma das maiores avenidas de Moscovo. Polícia em todas as esquinas da avenida. Quando cheámos a um certo ponto não nos deixaram passar porque não era seguro. Enquanto conferenciávamos um polícia pediu-nos que continuássemos a andar, sem parar, para longe dali… Digamos que não me senti lá muito confortável! Mas a verdade é que não vimos manifestação nenhuma. Soubémos no dia seguinte que se registaram confrontos entre nacionalistas e a polícia em vários pontos da cidade e que dezenas de manifestantes foram presos…

Tratámos de sair dali e fomos ter com a Julka que estava bué atrasada para apanhar o comboio para a sua cidade natal – Samara. É tão longe de Moscovo como Tallinn, 16 oras de comboio, uns 1000 km… Toca de correr outra vez pela cidade, pela estação de comboios e all the way até à última carruagem… foi o início do fim da estadia em Moscovo!

Moscovo IV

Depois fomos à universidade, uma das torres de Stalin e um dos melhores pontos de vista da cidade. Aí está a Universidade Estatal de Moscovo. Pelo que nos disseram as russas, um dipoma desta escola abre portas em todo o lado, mas para o ter é preciso muito dinheiro e muito mérito…




e vista do outro lado do rio

O rio que atravessa Moscovo tem o mesmo nome da cidade. Tem também umas belas pontes!


Depois da universidade, já pouco me podia surpreender. Mas há mais seis torres como a do ensino. Aí está mais uma:

ao longe

ao perto

em pormenor

Mais um passeio por uma rua turística, comprar umas matrioskas, postais, beber café. Vive-se bem! Uma coisa que marcou estes dias em Moscovo foi o tempo incerto! Neste segundo dia passámos pelas quatro estações do ano! Esteve sol, nevou, fez frio e calor, choveu… foi tão surreal como: entrar num túnel (para atravessar a estrada) com sol, e sair do outro lado a nevar! Incrível!!
Eu sou uma nódoa para me lembrar de nomes… mas na rua comercial, que cujo nome começa por A, vimos umas coisas giras como:

um restaurante georgiano que mais parecia um cenáro da Cinderela

e bonitos exemplares de arquitectura.
No café, a Alina (amiga da amiga da Julka) disse-nos que podíamos dormir em casa dela naquela noite. Ora, a miúda é moscovita, mora sozinha perto do centro (15 minutos de metro comparados com 1 hora de comboio…) e tinha um quarto livre! Foi a puta da alegria!! A casa onde ficámos na primeira noite não deve ter mais de 30 metros quadrados. Apesar da boa vontade das pessoas, nós precisamos de um bocado mais. Aceitámos o convite de Alina e começamos a correr contra o relógio. Eram seis da tarde quando decidimos ir à outra casa buscar as trouxas. O último comboio que tínhamos de lá para o centro de Moscovo era pouco depois das 9… sendo que duas horas seriam passadas em viagem, e tínhamos que fazer 9 mochilas, bem como carregá-las, estávamos com um grande problema. Foi um contra relógio impressionante! Decidimos e apanhámos o metro para a estação. Pelo caminho:

conseguem ver o avôzinho lá ao fundo?
Apanhámos o comboio, corremos durante 15 minutos para a casa do bacano, onde chegámos por volta das 8h30. O que vale é que somos uma máquina do caraças. A Alice e a Aude ficaram na cidade. Tínham mochilas pequenas e menos duas pessoas sempre é menos comfusão. Chegados à estação de saída a Laura e a Lena foram à loja comprar chocolates para os nossos anfitriões, para dizer “obrigadinha, mas adeus!”. Eu, a Bárbara e os rapazes fomos a correr para o apartamento. Enquanto uns faziam as mochilas eu falava com uma das miúdas que mora na casa. Inventei uma desculpa esfarrapada, disse que íamos a uma festa e que depois não teríamos comboio para voltar, por isso íriamos dormir na estação de comboios. “Spaciba bolchoi” pela hospitalidade, toma lá uns chocolates e da próxima vez que aceitares hospedar 9 pessoas certifica-te que mudaste de casa antes!
Dez minutos para as nove e eu e o Kêlig estávamos a sair do apartamento, com as nossas mochilas, mais as das miúdas, sacos cama, etc. A volta para a estação demorou mais que a ida, obviamente. Pelo caminho encontramos Vaddim, o nosso anfitrião e contacto do Hospitality Club. “Foda-se! Que grande galo!”, pensei eu! “Ah!! Merde!” disse o Kê! Mas o homem foi tão simpático que nos ajudou a levar as cenas para a estação… toca de desbobinar a mesma desculpa, com o meu melhor sorriso e umas desculpas em russo (“izvinitze”)!
O Kê ainda teve o descernimento de ir à loja comprar umas cervejas para a viagem. “After all this running we could use a bit of relax” foi o argumento dele. Na boa. Afinal, ainda esperámos uns cinco minutos pelo resto do pessoal (foi lindo vê-los a correr pelo meio da floresta, com mochilas de 75 litros às costas!) e mais cinco pelo comboio. Foi demais, mas lá apanhámos o último comboio para o centro, todos rotinhos, mas cada um com uma “Botchkariof” na mão!
Mais uma hora no comboio a levar com todo o tipo de vendedores de todo o tipo de bagatelas e lá chegámos ao centro. Altura para comprar algo para a nossa nova anfitriã: vinho tinto! Quando chegámos a casa dela tive o meu primeiro contacto com a verdadeira hospitalidade russa! A rapariga fez uma festa! Estava tão contente de receber pessoas… pôs música, pôs-nos a dançar, riu a bandeiras despregadas… foi lindo! Depois do apartamento nos subúrbios quando nos vimos num apartamento normal, com grandes quartos e duas casas de banho tivemos todas as razões para fazer a festa! Dormimos que nem princesas e tivemos um pequeno almoço de reis! Adorei e hei-de agradecer à miúda para sempre!