terça-feira, janeiro 06, 2009

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Estónia iliba agitadores russos

06.01.2009

Um tribunal da Estónia ilibou ontem quatro cidadãos de origem russa de terem dirigido a agitação iniciada após o Governo ter decidido em 2007 mudar de sítio um monumento da era soviética, considerado por muitos estónios uma desagradável recordação de tempos de subordinação a Moscovo.
Mais de um terço dos estónios são de etnia russa e viram a transferência para um cemitério militar como um insulto às tropas soviéticas que caíram em combate durante a II Guerra Mundial.
O Ministério Público pretende recorrer da absolvição dos homens que eram acusados de terem dirigido os motins que abalaram a capital, Talinn. Nessa altura o Parlamento russo condenou unanimemente aquilo que considerou uma atitude "neonazi e revanchista" de uma grande parte da população da Estónia, país báltico que em 2004 entrou tanto para a NATO como para a União Europeia.

in Público

foi com grande satisfação que li esta notícia, esta semana. Um dos quatro "agitadores" é Mark Sirik, um dos jovens do meu projecto. De todo o tempo que estive na Estónia, foi um dos miúdos do meu trabalho com quem criei uma melhor relação. O Mark fala bem inglês, tem ambições de viajar e estudar no estranjeiro. Cedo percebeu que a Estónia, por muito bonita que seja, não é (ainda) um país democrático, socialmente coeso e em desenvolvimento.
Tinha feito 18 anos há pouquissimo tempo quando foi preso. Na noite dos primeiros motins (26 Abril 2007), Mark estava em casa a estudar porque tinha teste no dia seguinte. Mas o dia amanheceu com a polícia em casa dele a prendê-lo. Foi acusado de agitação social, de provocar o motim, de conduzir as hostes, de incitar à violência. Esteve preso alguns meses, nas piores condições que um puto pode estar.
Eui ainda estava na Estónia quando foi julgado a primeira vez. Foi ilibado, claro. O juís percebeu que Mark era só um bode expiatório, um puto com ideias diferentes que tinha amigos estranhos. Os amigos, os outros três presos, são adultos revolucionários. São "aliens", estonianos sem cidadania, etnicamente russos, mentalmente soviéticos. Esses é que têm ligações à organização nacionalista extremista russa "Nachi" (Nós). Esses é que, provavelmente, incitaram à violência.
Seja como for, acho que ninguém devia ser acusado de promover os motins. Eu estava lá e vi como aconteceu. O "efeito multidão", a massa descontrolada, agitada, nervosa, oprimida, tem um poder demolidor. Num minuto eram milhares de pessoas (não só russófonas, muitas estonianas e estrangeiras também)a gritarem "Pazor pazor" (vergonha vergonha), a assobiarem, a acusarem (e bem) o governo estoniano de ser fascista. No minuto seguinte, eram uma manada de búfalos que corria contra os polícias, as barreiras, os cães. foi o caos. a cidade ficou destruída durante algumas semanas. Eu tive medo, fui identificada pela polícia na rua sem nenhuma razão aparente. Fiquei em casa numa sexta à noite, com medo. Não fui trabalhar durante vários dias, porque o meu escritório estava fechado e os patrões estavam a ser interrogados. O país parou graças a um ataque (concertado) de hackers russos... e a união Europeia o que fez?? NADA!! Nos estados Bálticos, mebros da UE desde 2004, há milhares de pessoas sem passaporte, chamados "aliens", sem cidadania, nem pátria. São etnicamente russos, nascidos nas ex-repúblicas soviéticas. São a mão de obra barata, os que contribuem mesmo para a produção de riqueza. São cidadãos segregados a partir do momento em que vão para a escola!! E depois o governo não quer que cresçam revoltados? Ainda lhes tiram os símbolos da sua etnicidade?! Porra para isto!! É por estas e por outras que (quase) nunca escrevi sobre a condição social de ser estoniano, ou de ser russófono ou de ser estrangeiro no Báltico! Porque me irrita, me enoja, me deixa fora de mim! Porque os russófonos se descriminam antes de serem descriminados, porque os estonianos são uns nacionalistas parvos e sobretudo porque têm um governo de extrema direita, fascizóide que é tão totalitário como o anterior soviético!
um bem haja ao Mark, porque no início este post era só para partilhar a minha alegria de ele ter sido absolvido outra vez!

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