quarta-feira, agosto 08, 2007

figuras e festivais sem fumo

Façamos uma prolepse na narrativa deste blog, de modo a recuarmos (um pouco) no tempo real desta história que é a minha. Saltemos do final de Maio, da visita dos três tripes tugas, para o final de Julho, o Festival de Música Folk de Viljandi. (ainda aqui vos hei-de contar o que se passou entre Junho e Julho. Mas foram meses tão povoados de festas de despedida e choradeiras pegadas, que ainda me custa um pouco escrever sobre eles!)
Ora então 27 de Julho, sexta feira eis que eu e a Julka nos fazemos à estrada depois de almoço para apanharmos uma qualquer boleia rumo a Viljandi, que dista uns quase 200 km de Tallinn. Um pai de família, com a sua filha adolescente, dá-nos boleia no seu jipe a cheirar a novo, directamente para o Festival! Fácil fácil!! Pelo caminho fomos a ouvir The Doors e a apreciar a paisagem. Tanto que até vimos um alce!! Há muitos alces na Estónia, bem como ursos, castores, veados, andorinhas e cegonhas. Mas eu cá nunca tinha visto um. foram 3 segundo muito felizes. depois lembrei-me de ligar à minha Super Pi para lhe desejar um FeLiZ aNivErSáRiO e perguntar se tinha recebido a minha prenda no correio. Para mim é sempre uma excitação falar com quem me diz tanto, mesmo que seja em silêncio. Mas desta vez foi ainda mais potente porque foi no momento exacto em que ela recebia a prenda e a desembrulhava... Não vos vou dizer o que era. Fico à espera que ela a vista e tire uma foto que eu possa colocar aqui!! (ouviste??)
Chegadas a Viljandi lá tratámos de encontrar a malta, especialmente a Bárbara que tinha o meu belo bilhete de imprensa... há tiques que nunca se perdem, como o de pedir credenciais de imprensa para tudo e mais alguma coisa. e não é que resulta?!? Então ainda apanhei o restinho do concerto de uns freaks do Sul da Estónia. São de uma área que se chama Setoma e que tem o seu próprio dialecto e cidades divididas a meio pelas fronteiras com a Rússia... Os Setots são considerados os índios da Estónia, ainda vivem de maneira muito tradicional e há muitos que não falam nada mais que o seu dialecto que é um misto de Estoniano com russo, numa mescla incompreensível!! (Ontem, por acaso, conheci um tipo desta região que tinha mais pinta e cor de ser do Sul da Europa que muito tuga que eu conheço!) O concerto foi fofo, dentro de uma tenda onde tive as primeiras impressões do festival: afinal há gente gira na Estónia (devem é viver todos em Viljandi!!) e... nem sei como hei-de pôr isto em palavras... Não cheirava a Birls, ninguém fumava, nada! Foi a primeira vez que me vi num concerto e num festival, com ar totalmente puro. E digo-vos: não tem grande piada!
Depois foi hora de ver os tugas Dazkarieh! É verdade e foi uma das razões que me levou a ir ao Festival. Já não me lembrava da última vez que os tinha visto... talvez Avante! 2005... não sei! Mas foi uma alegria ouvir gaitas e puder cantar, mesmo sabendo que era a única, além da vocalista!! Eles deram um belo concerto, puseram os estonianos a cantar e a dançar.

Numa música mais calma, instrumental, um canto da audiência transformou-se em grupo de dança tradicional estoniana. Estes tipos adoram dançar e cantar, mas eu nunca pensei que visse a cena mais tradicional estoniana ao som de música portuguesa. Foi, no mínimo, emocionante! Acho que os artistas também gostaram.

mais tarde encontre-os na rua, pelo festival e eles confirmaram ter gostado muito do concerto! Ficaram espantados de ver uma tuga na Tóina... mas o que eles não viram foi o meu look durante o concerto...

sim, choveu que não foi fácil... tanto que mesmo ao meu lado se dançava assim:

peço desculpa por ter cortado as cabeças aos bailarinos. Não é que fossem feios, mas vocês sabem que tenho o visor da máquina partido...
Mais bonita era a paisagem que se tinha do palco, suponho eu... é que Viljandi é das poucas terras na Estónia que tem colinas. Aqui não há montanhas. E o palco estava montado no topo de uma colina que ao fundo tem as ruínas de um castelo e em baixo um lago.


de uma colina para a outra há uma bela de uma ponte vermelha, suspensa, na qual eu quis tirar uma foto de família com a minha máquina parida... bem, ia ficando sem máquina, e ponte... quase nem se vê!!

ora ai estou eu e os alemães... à minha direita a Barbara, à esquerda a Doro, e no segundo anel Laura e Simon.
Fomos dar um pézinho de dança no folk estoniano... é muito bonito, mas lentooooo... e à noitinha vimos um alucinado de um australiano que eu não percebi o que estava a fazer no Festival. Ora além de ser dj de música electrónica tem nome de dj de trance: Amanaska! oh pah... mas o gajo era muito bom, assim mais pó chill out. Até tem uma música com as índias de Setoma a cantarem no seu dialecto marado... e vale a pena porque o gajo faz a música no seu belo MacBook Pro e enquanto deixa o som rolar toca didgeridu, umas cenas freaks de sopro e algo que se assemelha a um realejo! ah!! e canta!!

no Sábado, o primeiro concerto do dia foi o de um chileno chamado Fernando Stern. O homem foi tão bom que tocou em todos os dias do Festival, tiveram que lhe arranjar espaços no programa porque toda a gente o queria ver. Basicamente o senhor, sozinho, com a sua guitarra e a sua flauta foi capaz de dar mais show que muitas bandas que eu já vi. Cantou música chilena, cubana, mexicana... sempre a introduzir as canções com pequenas estórias sobre as mesmas. É daqueles músicos que tem semelhante vocação de entertainer que até arrepia. E canta com tanto sentimento que mesmo os estonianos sem perceberem uma palavra do que o homem cantava, estavam emocionados. Quando ele cantou a música que um brasileiro fez porque queria orar à Nossa Senhora da Aparecida, mas não sabia ler e como tal rezar... foi o fim, o caos! "Sou caipira pira pora Nossa..." fez-me chorar do início ao fim enquanto trauteava a letra sob o olhar assomado de quem se sentava ao meu lado. (também porque me lembrei muito da menina dos anos do dia anterior e do quanto ela gosta desta música) Foi dos melhores concertos que vi em toda a minha vida! A música foi boa, o espectáculo também e no seu conjunto, o concerto teve aquele estranho puder que só as obras de arte têm de nos comover e tocar e sensibilizar sem sabermos porquê nem conseguirmos contrariar os arrepios ou as lágrimas.

por hoje é tudo... até jazz

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